Afinal as raias são mais ‘ruidosas’ do que se pensava



É natural pensarmos que os oceanos são silenciosos abaixo da superfície. Quando colocamos a cabeça debaixo de água na praia, longe da zona de rebentação e dos ruídos de barcos, os nossos ouvidos enchem-se de um silêncio assombrador. No entanto, o mundo subaquático está repleto de sons, que podem, por exemplo, ir desde peixes a rasparem algas das rochas com dentes ou bicos duros até a caranguejos que fazem estalar as suas pinças em demonstrações de força.

Atualmente sabe-se que aproximadamente 990 espécies de peixes ósseos (cujos esqueletos é composto por ossos em vez de cartilagem) produzam ativamente sons, mas a essa orquestra submarina, juntam-se agora as raias, que se pensavam serem silenciosas.

Um grupo de investigadores descobriu que esses animais, aparentados dos tubarões, também produzem sons, em particular duas espécies: a Urogymnus granulatus e a Pastinachus ater. A descoberta foi revela num artigo publicado na revista da ‘Ecological Society of America’ no passado mês de julho, e os autores dizem que, apesar de no passado terem sido registados sons de raias em cativeiro, esta é a primeira vez que é captada a “produção de sons ativa e voluntária” por raias no meio natural.

Foram captados três vídeos distintos em que é possível ouvir pequenos ‘cliques’ feitos pelas raias, que os cientistas acreditam ser um sinal intencional de alerta ou de intimidação para afastar potenciais inimigos, pois os sons eram produzidos quando a pessoa que filmava se aproximava do animal e deixavam de ser ouvidos quando se afastava. Com os sons, era possível ver movimentos dos espiráculos e também na zona do crânio.

Os autores do artigo dizem que os vídeos comprovam os relatos que há ano são divulgados pelos pescadores de que as raias podem, realmente, ‘falar’.

Joni Pini-Fitzsimmons, uma das investigadoras da Universidade Macquarie, da Austrália, envolvida no projeto, argumenta que os cliques produzidos pelas raias parecem ser intencionais, uma resposta à aproximação da pessoa que filmava, e assinala que as raias são animais sociais, pelo que não afastam a possibilidade de o som ser uma forma de alertar outras raias para o perigo ou até mesmo ser um pedido de ajuda.

Os autores dizem que os elasmobrânquios, o grupo que engloba as raias e os tubarões, conseguem ouvir frequências baixas e já foram documentadas mudanças de comportamento em reação a esses sons. Mas estes sons produzidos pelas raias, além de serem compostos por frequências audíveis pelas raias, são também audíveis por predadores que possam estar nas redondezas, como o tubarão-de-pontas-pretas-do-recife (Carcharhinus melanopterus) ou o Negaprion acutidens.

Javier Delgado Esteban, o biólogo que captou um vídeo em 2018 de uma raia a produzir ‘cliques’, e que é considerado o primeiro de todos, observou que o som produzido pelo animal atraiu outras raias, que pareciam formar um grupo em volta do emissor para se protegerem de predadores.

“O facto de só agora percebermos que estas raias com as quais nos cruzamos várias vezes estão a fazer estes barulhos mostra, uma vez mais, que sabemos muito pouco sobre os oceanos”, reconhece Lachlan Fetterplace, da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas e o principal autor do artigo.





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