Afonso Lobato Faria: “A reutilização das águas residuais é um dos investimentos prioritários da Águas de Portugal”
Em 2009, Lisboa garantiu a organização do Congresso Mundial da Água, um evento que arranca hoje e foi “ganho”, há cinco anos, à custa das propostas de Istambul (Turquia), Bruxelas (Bélgica), Dublin (Irlanda) e Genebra (Suíça).
Considerado o mais importante congresso sobre água do mundo, o evento é organizado pela International Water Association (IWA) e terá como tema “Moldar o Futuro da Água”. A Águas de Portugal é uma das empresas que mais activamente trabalha na organização do evento – ou não se realizasse ele em Portugal – razão pela qual o Green Savers entrevistou o presidente da empresa, Afonso Lobato Faria.
Quais os principais temas que espera ver debatidos e esclarecidos no Congresso?
O sector das águas é de grande importância no âmbito da saúde pública, da qualidade do ambiente, das alterações climáticas, da inovação. Estas são temáticas transversais ao conjunto de temas de âmbito mais técnico da agenda do congresso, relacionados com segurança e qualidade do abastecimento, tecnologias de ponta, processos de tratamento inovadores, contributos da ciência – e também com questões de governação, modelos de gestão, sustentabilidade económico-financeira ou eficiência energética.
É a primeira vez que este congresso se realiza em Portugal, o que nos distingue mas também nos traz uma responsabilidade acrescida. Espero que os participantes dos mais de 100 países presentes aproveitem plenamente a amplitude de conhecimentos e de experiências partilhada pelos melhores especialistas do sector que vêm também de diferentes latitudes.
Que keynote speakers não vai perder e porquê?
A maior dificuldade vai ser escolher, porque o leque de possibilidades é muito rico e diverso. Se pudesse destacar apenas um, diria que tenho especial curiosidade pela intervenção de Sue Murphy, CEO da Water Corporation of Western Australia, que irá abordar os temas da eficiência e sustentabilidade dos serviços de água – que é um dos principais desafios do nosso sector em Portugal.
A Águas de Portugal terá um conjunto muito alargado de sessões e workshops. Que temas destaca desta lista?
Podemos realmente orgulhar-nos da participação do grupo Águas de Portugal, desde logo pela participação activa da EPAL na organização do Congresso. No conjunto das outras empresas do grupo, estamos envolvidos na dinamização de mesas-redondas e workshops, participamos em mais de 20 painéis, temos 32 posters, promovemos fóruns de negócios e diversas outras actividades numa excelente mostra das capacidades dos nossos colaboradores.
Neste contexto, destacaria os workshops “Management models for water utilities” e “Investments for 2020 in Portuguese speaking Countries”, ambos dinamizados por empresas do grupo e a decorrer no primeiro dia do congresso, dia 22.
A quarta-feira, dia 24, é um dia de grande destaque para o grupo uma sessão dedicada ao tema dos Planos de Segurança da Água, no Programa do Congresso, inteiramente dinamizada por colaboradores. Também neste dia, gostaria de destacar a apresentação do “Manual para o desenvolvimento dos Planos de Segurança da Água” no stand da Águas de Portugal, no espaço da exposição do Congresso. Trata-se de um manual desenvolvido por um grupo de trabalho da Águas de Portugal especializado em Planos de Segurança da Água (PSA), sendo uma adaptação da publicaçãoWater Safety Plan Manual: step-by-step risk management for drinking-water suppliers, da Organização Mundial de Saúde e da Associação Internacional de Água, complementada com a experiência das empresas do Grupo AdP, que já têm Planos de Segurança da Águas implementados.
Não posso também deixar de referir as visitas técnicas na sexta-feira, dia 26, a diversas infra-estruturas de tratamento de águas do grupo, como as estações de tratamento de águas residuais de Alcântara, em Lisboa, da Guia, em Cascais, e de Serzedo, em Guimarães, e a estação de tratamento de água da Asseiceira, em Tomar.
Uma das razões apontadas para Lisboa ganhar a organização do Congresso Mundial da Água teve como pano de fundo a nossa relação privilegiada com os países íbero-americanos e africanos. Que papel poderá ter a Águas de Portugal no desenvolvimento de boas práticas e inovações nestes países?
É um facto que as afinidades históricas e a língua em comum têm encaminhado de forma natural os projectos de âmbito internacional realizados pela Águas de Portugal, nomeadamente em Angola, no Brasil, em Cabo Verde, em Moçambique e em Timor-Leste. Este relacionamento tem sido consolidado ao longo de quase duas décadas de projectos de cooperação, de assistência técnica e de gestão de concessões de serviços de águas e resíduos.
É para nós uma grande satisfação ter todos esses nossos parceiros aqui em Lisboa no Congresso Mundial da Água, sobretudo porque se trata de uma oportunidade para consolidar os projectos que temos em comum e partilhar os desafios do futuro que discutidos nas diferentes conferências e sessões técnicas.
Um dos temas que mais entusiasmo está a criar no congresso é o da reutilização da água residual. Qual a sua opinião sobre este assunto e de que forma esta inovação poderá ser uma realidade global?
O grupo Águas de Portugal também partilha desse entusiasmo, tanto mais que a reutilização das águas residuais é uma das áreas prioritárias de investimento em Inovação e Investigação & Desenvolvimento do grupo e que foi também inscrita como uma das áreas a aprofundar no âmbito de uma parceria de cooperação com instituições de ensino superior politécnico que recentemente celebrámos.
Isto quer dizer que, sendo o grupo Águas de Portugal responsável por tratar as águas residuais de cerca de 80% da população portuguesa, tem naturalmente uma grande responsabilidade em aprofundar a viabilidade e mais-valia ambiental, técnica e económico-financeira da reutilização das águas residuais nos seus sistemas. Teremos inclusivamente numa das sessões dedicadas a esse tema, na terça-feira, um colaborador nosso com uma intervenção sobre “Wastewater Reuse: Strategic Planning as a Viability Factor”.
Actualmente a reutilização das águas residuais na lavagem de pavimentos das instalações e equipamentos, na rega de espaços verdes e na preparação de reagentes já é comum à maioria dos nossos sistemas, ao mesmo tempo que vão sendo desenvolvidos outros projectos-piloto, como o encaminhamento da água residual tratada para utilizações municipais em grandes centros urbanos, como lavagem de ruas e contentores, a rega de campos de golfe e até para o arrefecimento de sistemas de refrigeração de espaços comerciais.
O Green Savers terá uma equipa de reportagem no Congresso Mundial da Água. Siga-nos diariamente em www.greensavers.sapo.pt, no Facebook ou Twitter.