África Oriental: cultivo de cereais está a atrair cada vez mais roedores portadores de doenças



Ao longo das últimas décadas, centenas de hectares de terrenos baldios da África Oriental têm lentamente sido convertidos em terras de cultivo num esforço para acabar com a ameaçada da insegurança alimentar na região. Embora esta medida tenha tido um impacto positivo, ao criar mais fontes de alimento e de rendimento para as populações locais, um novo estudo revela que a transformações dos terrenos também aumentaram os riscos de pragas para as pessoas que vivem e trabalham nesta região de África.

De forma a avaliar se a alteração nas paisagens naturais teve algum efeito nos roedores portadores de pragas, os investigadores centraram-se em terrenos no norte da Tanzânia, onde as terras agrícolas se expandiram 70% nas últimas décadas. Analisando este local, os investigadores descobriram que as espécies de roedores com probabilidade de estarem infectadas por doenças eram 20 vezes mais abundantes naquele local por comparação com terrenos selvagens e que os roedores já infectados com doenças eram duas vezes mais comuns nas quintas da região. O estudo foi publicado no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene.

“Não são os números de roedores, per si, mas é mais porque nos campos de cereais existe um rato que é mais comum e tem maiores probabilidades de propagar pragas”, explica Dan Salkeld, epidemiologista de vida selvagem da Universidade Estatal do Colorado e um dos autores do estudo, cita o Motherboard.

Segundo os investigadores existe um número de factores que pode contribuir para o fenómeno da expansão dos ratos. “Alguns roedores não são tão resilientes como deveriam quando são removidos da paisagem natural, acabam por desaparecer com ela. Mas este rato [o Mastomys natalensis]pode ser mais resiliente. Encontrámos muito poucos destes ratos em florestas intocadas pelo homem, o que aparenta que estes ratos gostam em particular de alguma coisa que as pessoas fazem nos campos – o que pode ter que ver com as quantidades massivas de cereais”, explica Salked.

A investigação descobriu que esta espécie de roedor era portadora de um maior número de pulgas infecciosas, incluindo espécies de pulgas que não eram encontradas em roedores de locais selvagens. O estudo indica que a probabilidade de transmissão destas pulgas infecciosas para os humanos, que podem originar pragas, é aumentada pela presença de mais roedores mas também pela própria presença de mais pessoas nas quintas do que em zonas selvagens.

Porém, o estudo não conseguiu determinar se este aumento de roedores nas zonas agrícolas conduziu a um aumento das pessoas infectadas por pragas. “Não temos informação sobre casos de pragas em pessoas. Não sabemos quando, em particular, as pessoas são infectadas ou quão frequentemente. Estas são zonas onde os dados sobre a saúde das pessoas são escaços”, adianta o investigador.

Embora as pragas tenham sido erradicadas na sua maioria nos países desenvolvidos, existem vários casos de surtos de pragas em grande parte do território africano. Entre 2000 e 2009, a Tanzânia registou 290 casos de pragas, o Congo registou mais de 10.000 casos e um surto recente em Madagáscar matou pelo menos 40 pessoas.

Foto: charlie.syme / Creative Commons





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...