África: Populações vulneráveis fogem da seca mas podem enfrentar risco de cheias



A seca é um dos grandes, e mais devastadores, reflexos dos impactos das alterações climáticas no planeta, afetando habitats e, com maior ou menor intensidade e gravidade, todas as formas de vida, incluindo nós, humanos.

Perante a falta de água e o avanço implacável da aridez, muitas pessoas abandonam as suas terras em busca de melhores condições. Estima-se que em 80% dos países africanos, o ‘êxodo climático’ das últimas décadas tenha feito aumentar o número de pessoas a viverem em cidades e perto de rios, agravando a exposição a outros riscos climáticos, como as cheias.

A conclusão é de um estudo divulgado recentemente na revista ‘Earth’s Future’, no qual investigadores de Itália e da Suécia alertam que a migração para centros urbanos e zonas ribeirinhas tenderá a intensificar-se nas próximas décadas, à medida que as secas se tornam mais frequentes e severas.

Serena Ceola, especialista em hidrologia da Universidade de Bolonha e primeira autora do artigo, explica, em comunicado da American Geophysical Union (AGU), que o agravamento quer das alterações climáticas a nível regional, quer as secas e cheias, fará com que cada vez mais pessoas tentem encontrar locais mais seguros para se estabelecerem.

No entanto, “as pessoas podem deslocar-se de um local afetado pela seca para outro ou irem para algum lugar que tenha diferentes riscos climáticos”, salienta.

A título de exemplo, nos últimos três anos quase quatro milhões de pessoas na Somália deixaram as suas terras por causa da seca, e restabeleceram-se perto de rios, onde podiam voltar a dedicar-se à agricultura. Mas chuvas intensas e cheias rápidas voltaram a obrigá-las a procurar novas casas.

Embora vários fatores possam explicar o deslocamento humano, estes investigadores consideram que a seca é um dos principais, podendo, entre outros efeitos, provocar ou agudizar conflitos e instabilidade política, social e económica, e ameaçar a segurança alimentar.

Através do estudo dos impactos socioeconómicos da seca, bem como dos seus efeitos nos níveis de evapotranspiração, e cruzando esses dados com imagens de satélite que ajudam a perceber as dinâmicas de assentamento, os investigadores quiseram compreender as secas em 50 países africanos entre 1992 e 2013.

Dezassete países experienciaram secas durante esse período e em até 65% deles foram registados movimentos de pessoas em direção aos rios. O mesmo fenómeno de deslocação foi observado em todos os países do sul de África.

“Os legisladores precisam de dados e informação detalhada para implementarem um planeamento estratégico, para apoiarem um desenvolvimento sustentável e para aumentarem a resiliência das pessoas que vivem em áreas vulneráveis”, diz Ceola, acrescentando que as essas pessoas devem também “estar cientes dos riscos e devem ter a oportunidade para se moverem livremente para localizações mais seguras”.





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