Agora que o elBulli fechou, o que anda Ferran Adriá a fazer?
“Se isto é a reforma, então odiava estar a trabalhar”. Em português, sejamos sinceros, a frase não soa bem. Em inglês, soa ligeiramente melhor: “If this is retirement, than I’d hate to be working”. Mas em catalão – e dito pelo chef Ferran Adriá – deve atingir o pico do sentido.
A frase, claro está, foi proferida pelo próprio Adriá. A pergunta do jornalista não deve ter andado muito longe do politicamente incorrecto “E agora que se reformou, o que anda a fazer?”. E o que anda Ferran Adriá a fazer? Bom, para já o chef – um dos mais influentes do mundo – está a trabalhar num documentário sobre o elBulli, na Alemanha e a dar conferências Lima, no Perú, e na China. E a receber prémios, em Genebra, na Suíça.
Adriá prepara-se também ser professor, pelo segundo ano consecutivo, de uma cadeira de Ciências da Cozinha, na Universidade de Harvard, EUA, e vai lançar um novo livro: The Family Meal [A refeição da família].
Mas a cabeça de Adriá está noutro projecto: a Fundação elBulli, que deverá ser inaugurada em 2014. É aqui que a vida de Adriá pós-elBulli se torna mais interessante.
A fundação vai ser construída em Cala Montjoi, Girona (as obras arrancam em Janeiro), e vai incluir o célebre restaurante tal como ele está hoje. Desenhado pelo arquitecto catalão Enric Ruiz-Geli, o complexo promete ser um ícone da sustentabilidade, sobretudo devido aos seus edifícios com zero emissões de carbono.
A fundação está programada para receber milhares de visitantes por dia e será um laboratório criativo. Terá também um museu de culinária, que irá apostar na interactividade com as crianças e exibições de menus, receitas, notas de sabores e fotografias que o elBulli recolheu ao longo dos anos.
Segundo explica o próprio Adriá ao Financial Times, a fundação foi pensada como um think-tank gastronómico, mas, como tudo na vida do cozinheiro, esta visão pode mudar. “A passo e passo, estamos a construir uma visão do que queremos [que a fundação] seja. Mas é passo a passo”, explicou o cozinheiro. O que equivale a dizer: os planos que Adriá tem hoje, para a fundação elBulli, podem mudar amanhã.
Pode acompanhar este projecto em construção aqui.
Finalmente, a elBulli Foundation vai ter uma cozinha experimental e tentará ligar a gastronomia à arte. Aqui, e através de uma parceria com a tecnológica Telefónica – Ferran Adriá é uma da caras da marca -, a fundação irá colocar online, diariamente, os resultados desta fusão criativa. Tudo isto custará 10 milhões de euros, verbas que o chef espanhol espera arrecadar até 2014.