Agricultura precisa de se reinventar para proteger a segurança alimentar e travar a desflorestação em todo o mundo, defende FAO



Até 2050, o crescimento da população mundial a produção alimentar precisará de aumentar 50%, exigindo uma expansão de entre 165 e 600 milhões de hectares do que atualmente para culturas e gado, sendo que grande parte dessas áreas está hoje “coberta por florestas e outros ecossistemas críticos”.

A conclusão é do mais recente relatório da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), das Nações Unidas, intitulado ‘Travar a desflorestação por cadeias de valor agrícolas: o papel dos governos”.

A agência internacional alerta que “aumentos das colheitas não serão, só por si, suficientes para responder à procura e para proteger as florestas” e que “o mundo não pode continuar a perder recursos vitais de biodiversidade e da floresta”, pelo que “melhorias ao nível das colheitas deveram acontecer a par de outras intervenções que reforcem a governança, protejam as florestas e promovam a sustentabilidade económica, ambiental e social”.

O documento revela que desde 1990 “perdemos 420 milhões de hectares de floresta através da desflorestação” e que essa perda continua nos dias de hoje, “embora o ritmo tenha desacelerado de 11 milhões de hectares por ano na década 2000-2010 para 8,8 milhões de hectares por ano no período entre 2010 e 2018”. A agricultura “foi responsável por quase 90% da desflorestação global entre 2000 e 2018” e que “a expansão de terras de cultivo e para pastagem de gado é a maior força a impulsionar a perda de floresta”.

“Globalmente, o crescimento populacional, os hábitos de consumo, mudanças nas dietas e a perda e desperdício de alimentos estão entre os muitos fatores que exigem que o setor agrícola produza mais e diferentes tipos de bens alimentares”, indica a FAO, salientando que “a degradação dos solos e as consequências das alterações climáticas reduzem a disponibilidade e produtividade das terras aráveis”.

Assim, caso nada seja feito para alterar o cenário que hoje temos, “essas tendências continuarão a gerar a conversão de terras florestais em agricultura, exacerbando um ciclo vicioso que terá impactos catastróficos sobre o clima e sobre a biodiversidade”.

A FAO está ciente das dificuldades e reconhece que “aumenta a segurança alimentar sem diminuir drasticamente a cobertura florestal é um grande desafio” que exige “ação concertada e coletiva”. Dessa forma, “todos os atores que usem as florestas e os solos, de comunidades locais e povos indígenas a governos, produtores e o setor privado devem ser mobilizados” e aponta que os Estados têm um papel fundamental a desempenhar para ser possível alcançar um equilíbrio sustentável entre as maiores necessidades de produção de alimentos e a proteção das florestas.

Para que seja possível travar a desflorestação até 2030, a FAO sugere que “os governos criem as condições para que os agricultores possam mudar as suas práticas de forma a maximizarem a produção, ao mesmo tempo que minimizam os impactos nas florestas e na biodiversidade”.

Ainda, “o relatório recomenda que os governos prestem especial atenção aos agricultores de pequena escala, que produzem cerca de 35% dos alimentos a nível mundial, mas frequentemente vivem em pobreza” e que nem sempre podem suportar os custos e a perda de rendimentos que derivam das mudanças à sua atividade. Dessa forma, os governos devem criar estruturas regulamentares que permitam incentivar uma agricultura mais sustentável, que não exauste os solos e que não seja uma ameaça às florestas, mas sim um fator dinamizador da biodiversidade.

Os especialistas afirmam também que o pastoreio “é frequentemente considerado uma ameaça às florestas e às paisagens, porque podem causar prejudicar a vegetação e erodir o solo”. No entanto, se for integrada devidamente em estratégias de proteção e revitalização das florestas, “o pastoreio pode desempenhar um papel fundamental no restauro de terras degradadas”, “travando a desertificação e melhorando a prevenção contra fogos florestais” por ajudarem a controlar a vegetação, “a acelerar os ciclos de nutrientes e a melhorar a fertilidade do solo”.

“Quando o gado e as árvores são bem geridos de forma integrada, é possível criar um sistema agroflorestal integrado que pode impulsionar ecossistemas locais e fortalecer a segurança alimentar”, argumenta Tiina Vähänen, diretora-adjunta da divisão de florestas da FAO.





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