Aldeia de Montalegre tem um festival que celebra o lobo e as tradições seculares
O festival comunitário Aldeia de Lobos, que decorre entre 07 e 08 de julho na aldeia de Fafião, em Montalegre, visa a preservação do lobo ibérico e as tradições seculares como as vezeiras ou as carrejadas, foi hoje anunciado.
A tradição das vezeiras visa o pastorear à vez pela serra, seja o gado bovino ou caprino, e as carrejadas dizem respeito à sementeira do centeio na serra, em locais que se podem localizar a cerca de 1.200 metros de altura e a uma distância que pode atingir os oito a nove quilómetros da aldeia mais próxima.
“São dois pilares que ainda vão subsistindo e que nós temos lutado muito para que se mantenham, uma referente ao gado e outra referente ao centeio e à parte de ainda se poder semear a serra dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG)”, afirmou hoje à agência Lusa Júlio Marques, da Associação Vezeira.
Localizada em pleno PNPG, na área do distrito de Vila Real, a aldeia de Fafião, freguesia de Cabril, faz por isso questão de preservar as tradições comunitárias e de celebrar o lobo ibérico.
No comunicado divulgado hoje pela associação refere-se que “na aldeia onde o lobo era levado para morrer, nasceu em 2018 um festival em prol da sua preservação”.
Acrescenta que “longe vão os tempos em que esta espécie, hoje em estado ameaçado, era inimiga da população de Fafião”.
“Aqui festeja-se o lobo, colocando-o como pilar da importância de uma aldeia”, salientou Júlio Marques.
O toque das buzinas, cornos usados para chamar o gado, dá o pontapé de saída do festival que se espalha pelas ruas da aldeia e ocupa as cortes onde os animais pernoitam, que se transformam em galerias que vão acolher exposições e instalações artísticas que incluem fotografias sobre o PNPG, bem como o fojo, antiga armadilha para os lobos.
Haverá exposições de escultura, pintura, fotografia e murais de arte urbana, e a música tem também um lugar de destaque neste festival, com grupos locais, concertos e atuações de DJ.
Segundo a organização, “porque a preservação do património de Fafião também merece destaque, durante os dias do festival, os visitantes poderão acompanhar uma exposição biográfica dos santos que compõem o interior da capela da aldeia, a realizar pelo grupo de restauro Dalmática que se internacionalizou graças ao restauro do retábulo-mor da Catedral do Panamá, visitada e elogiada pelo Papa Francisco e por Marcelo Rebelo de Sousa em 2019”.
O programa inclui um ‘workshop’ sobre técnicas de apicultura, uma aventura por um trilho ancestral, um mercado com produtos produzidos nos campos da aldeia e uma tertúlia onde estarão em destaque os vezeireiros da aldeia.
Em Fafião, ainda se mantém ativa a vezeira das vacas, que começam a subir a serra em maio, onde permanecem até final de setembro, outubro, a cada dia acompanhadas por um criador.
Os animais não são deixados sozinhos também para os proteger dos lobos.
Já a vezeira da rés traduz-se em cada pastor tomar conta das cabras de todos à vez, mas esta tradição conta apenas, atualmente, com dois pastores, um dos quais da Associação Vezeira, que luta pela preservação desta tradição.
Júlio Marques disse que o festival ajuda a movimentar a economia local, nomeadamente os restaurantes e os alojamentos turísticos nesta freguesias e nas vizinhas, algumas pertencentes já a Vieira do Minho e Terras de Bouro, concelhos do distrito de Braga.