Algumas aves marinhas podem estar a desenvolver imunidade à gripe das aves
Desde 2020 que uma variante do vírus que provoca a chamada ‘gripe das aves’, o H5N1, tem causado a morte de um grande número de aves selvagens e domésticas em praticamente todos os continentes.
Embora o patógeno tendencialmente se propague entre aves, têm sido detetados vários casos de infeções em mamíferos, algo que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é preocupante, uma vez que “o vírus poderá adaptar-se para infetar humanos mais facilmente”. Ao infetar mamíferos, o vírus pode dar origem a novas variantes ou mesmo a outros vírus “que podem ser prejudiciais para os animais e para os humanos”, avisa a instituição internacional.
No entanto, uma investigação liderada por um consórcio de oito organizações científicas do Reino Unido, o FluMap Consortium, revela que algumas espécies selvagens de aves marinhas apresentam sinais de imunidade à gripe aviária.
Os resultados preliminares do trabalho foram divulgados num artigo publicado recentemente na revista ‘International Journal of Avian Science’, e os especialistas avançam que, com base em análises laboratoriais ao sangue de alguns animais, os alcatrazes, também conhecidos como gansos-patolas, e os corvos-marinhos exibem imunidade ao H5N1.
No caso dos alcatrazes, 30% dos indivíduos da colónica de Bass Rock, na Escócia, apresentavam anticorpos para a gripe das aves. Quanto aos corvos-marinhos, os investigadores estimam que metade da população tenha desenvolvido imunidade ao vírus.
Ainda que sejam boas notícias para as atuais populações de aves selvagens, e possa permitir alguma esperança sobre a sua sobrevivência, os cientistas avisam que o vírus pode mutar e que os anticorpos das próximas gerações das aves dessas espécies podem não ser suficientes para garantir uma imunidade suficiente para fazer uma grande diferença.
Apesar de a reduzida dimensão da amostra – cerca de 30 indivíduos de cada população – exigir cautela na interpretação dos resultados, os investigadores consideram que evidências de imunidade natural ao H5N1 são um sinal positivo e o trabalho será consolidado com testes a outras espécies selvagens de aves.
Em comunicado, o governo britânico anunciou um financiamento adicional de quase quatro milhões de euros ao consórcio “para aprofundar a nossa compreensão sobre esta doença terrível”.