Algumas regiões do planeta têm mais espécies do que outras. Cientistas acreditam que a razão está na estabilidade climática



É amplamente sabido que partes do planeta, quer em terra quer no mar, contêm um maior número de espécies do que outras. Aliás, algumas regiões, como as densas e húmidas florestas tropicais, apresentam uma diversidade biológica muito maior do que países inteiros.

Então, a que se deve essa heterogeneidade? Investigadores dos Estados Unidos da América, Israel e África do Sul acreditam que os locais mais biodiversos tem beneficiado de climas relativamente estáveis ao longo de milénios, permitindo o desenvolvimento e proliferação de um grande número de espécies distintas. Por outro lado, regiões com um longo historial de mudanças climáticas drásticas tendem a apresentar uma menor diversidade de espécies, fruto de eventos de extinção.

Para chegarem a essa hipótese, os cientistas estudaram ao estudo de estalagmites como registos geológicos das transformações climáticas para perceberem a relação entre essas mudanças e a evolução da biodiversidade na África do Sul.

Planta do género Protea, nativa da ‘Região Floral do Cabo’.
Foto: Kerstin Braun (coautora do artigo)

Num artigo divulgado recentemente no ‘Journal of Biogeography’, explicam que uma área no extremo sudoeste desse país, conhecida como a Região Floral do Cabo (ou Cape Floristic Region, em inglês), é uma das zonas com maior diversidade de espécies vegetais de todo o mundo, apesar de ser caracterizada por solos pouco ou nada férteis e por verões secos e quentes.

Mapa que mostra, a sombreado, a área denominada como ‘Região Floral do Cabo’ (ou Cape Floristic Region, em inglês).
Foto: Kerstin Braun (coautora do artigo)

“Para compreender as razões para essa diversidade, precisamos de desenvolver registos climáticos longos de uma grande amostragem de regiões do mundo e estudar a relação entre a sua estabilidade climática e a diversidade de espécies de flora”, explica Curtis Marean, da Arizona State University e um dos coautores do artigo.

Para isso, os investigadores recolheram estalagmites numa gruta na cidade sul-africana de Robertson, e que terão começado a ser formadas há cerca de 670 mil anos. De seguida, essas amostras foram comparadas com outras que foram recolhidas em locais com climas semelhantes, mas com menor diversidade biológica.

Uma das estalagmites recolhidas numa gruta em Robertson, África do Sul, e que terá sido formada ao longo dos últimos 400 mil anos.
Foto: Curtis Marean (coautor do artigo)

Os resultados da investigação, segundo aos autores, mostram “claramente” que a região do Cabo manteve um clima muito mais estável ao longo dos milénios do que outros locais, o que, argumentam, suporta a tese de que a estabilidade climática e a biodiversidade andam lado a lado.

Assim, os cientistas consideram que, ao contrário do que se poderia pensar, climas quentes e húmidos, como os encontrados nas florestas tropicais altamente ricas em espécies, não são uma condição indispensável à evolução de uma grande biodiversidade. Ao invés, a estabilidade climática e extinções limitadas são os fatores decisivos, pelo menos em regiões do planeta com climas mais secos e quentes.

“Os nossos resultados são um alerta contundente sobre os impactos das rápidas alterações climáticas que estamos agora a experienciar”, afirma Marean, salientando que a degradação ambiental e climática, intensificada pelas atividades humanas, terá “consequências terríveis” não apenas para as plantas, mas também para todos os outros animais, incluindo os humanos, que delas dependem.





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