Almáa Sintra: o eco-hostel sustentável português para namorados e não só (com FOTOS)



Situado no deslumbrante cenário da Serra de Sintra, na antiquíssima Quinta dos Lobos, o Almáa é um deslumbrante e sustentável hostel português, destacado na imprensa internacional e, há uns meses, no Green Savers.

João de Mello, responsável pelo projecto, explicou ao Green Savers como tudo começou e que visão tem para este projecto hoteleiro. Veja também algumas fotos do acolhedor hostel.

Como surgiu a hipótese de serem destacados pelo Inhabitat?

Este projecto começa já a ter alguma notoriedade e temos tido contactos de várias partes do mundo para escreverem sobre nós, como é o caso do The Guardian ou da Catherine Mack (vencedora do Virgin Holidays Responsible Tourism Awards 2011 na categoria de Tourism Writing), do Ethical Traveller, só para citar alguns. No caso do Inhabitat foi, contudo, de uma maneira muito curiosa. Após ter lido o artigo que a Lori Zimmer escreveu sobre o The Independente, enviei-lhe um email com uma apresentação deste projeto. Passados cinco minutos ela respondeu-me a pedir fotografias e no dia seguinte estava online.

O vosso edifício e zona envolvente tem uma história bastante rica. Pode contá-la?

A Quinta dos Lobos, onde está localizado o Almáa, é considerada a mais antiga Quinta de Sintra e as suas origens remontam ao séc. XII. Fazia parte da floresta de Almosquer, que foi oferecida aos cavaleiros templários por D. Afonso Henriques, em reconhecimento pela ajuda dada na reconquista de Portugal aos Mouros. A casa principal – onde estamos – embora tenha algumas partes do séc. XVI ou XVII (cozinha e entrada/recepção) teve uma série de alterações ao longo dos anos, cujas maiores foram já nos anos 40 do século passado.

O hostel é um conceito muito associado a zonas urbanas. Porque razão decidiram fundar um em Sintra?

Não achamos que tenha a ver com zonas rurais ou urbanas. O alojamento do tipo hostel nasceu do movimento alberguista há mais de 100 anos, sendo considerado como um estilo de vida para mochileiros, aventureiros e até famílias que procuram novas amizades e contactos com outras culturas.

Tem mais a ver com filosofia de vida e valores com que nos identificamos e não apenas com características particulares deste tipo de alojamento. A nosso ver, a característica mais importante, que conquista o coração de quem chega pela primeira vez, é a sensação de acolhimento, de fazer parte de uma grande família onde existe a oportunidade de todos conversarem, comerem e confraternizarem em conjunto.

Sendo este um projecto de vida, mais do que qualquer outra coisa, pretendia-se fomentar esta filosofia, em que as pessoas nos escolhem, nem tanto pela questão do preço – que é necessariamente baixo – mas pelo sentido de união, amizade, troca de conhecimentos, intercâmbio cultural, acima de qualquer conotação social, política ou religiosa.

O porquê de o fundar em Sintra surge de razões pessoais, da grande ligação que tenho a Sintra e por outros motivos óbvios; a serra e vila espantosas, com uma beleza natural única e potencial turístico muito ainda por explorar. Acresce que, a nosso ver, existia uma grande carência de hospedagem compatível com a notoriedade nacional e internacional da vila e em particular vocacionada para o segmento-alvo que se pretendia atingir: adeptos de um tipo de turismo responsável e sustentável.

Outras das associações que se fazem ao hostel é o low cost. Porquê algo low cost, por exemplo, perto do Palácio da Regaleira?

Por várias razões. A primeira é que vivemos uma grande crise mundial, em que as pessoas tendem a procurar alternativas de alojamento mais baratas. Em segundo lugar, insere-se dentro dos nossos valores sociais o facto de conseguirmos dar a oportunidade a qualquer pessoa de ficar alojado na mais antiga quinta de Sintra e desfrutar desta envolvência a um baixo custo. Por último, mas não menos importante, pelo facto de, sendo este um projecto pequeno, ser mais fácil em termos de custo construí-lo.

Porque razão definiram os princípios sustentáveis como a base para atraírem os vossos clientes?

Os valores sociais e ambientais subjacentes a este projecto não aparecem como estratégia para atraírem clientes. Sendo este um projecto de vida, os valores que ao Almáa estão inerentes são os mesmos que eu pretendo para a minha vida. Sendo eu uma pessoa de valores, não concebia ter um negócio tradicional ou sem valores. No entanto é um facto que – felizmente – vivemos numa época em que a sustentabilidade é um pouco – uma boa – moda, pelo que pode unir-se o útil ao agradável e ter o melhor dos dois mundos.

Porque razão decidiram mobilar o hostel com produtos em segunda mão ou materiais reciclados?

Tem tudo a ver com os princípios ou valores da sustentabilidade e solidariedade social que foram estabelecidos como as pedras basilares neste projecto. Em vez de comprar tudo feito, tentámos aproveitar materiais já existentes e com a ajuda de entidades sociais (ou nós mesmos) construi-los. Desta forma reduz-se os custos, ajuda-se pessoas com necessidades e contribui-se também para que não haja tanto desperdício a poluir o planeta.

Como exemplos temos o lava-loiças da cozinha, que é uma antiga banheira, a mesa da recepção, que foi feita com a antiga cuba da cozinha, ou as paredes que foram decoradas com lixo apanhado na praia. As camas foram feitas pel’O Companheiro (instituição que apoia ex-reclusos), com paletes compradas ao Banco Alimentar contra a Fome; os colchões e outros móveis foram comprados à Remar.

O Almáa foi a primeira unidade hoteleira em Portugal a concluir o Biodiversity Check. Quais as principais conclusões deste instrumento, relativamente ao vosso hostel?

Para além da confirmação (sempre gratificante) de estarmos no bom caminho, foram-nos dadas uma série de recomendações que embora já estivessem por nós pensadas e interiorizadas não estavam escritas.

As principais são: melhorar a comunicação do que fazemos – missão, visão e valores, política de compras –, contribuindo, assim, para a educação ambiental dos nossos hóspedes; identificar, monitorizar e comunicar a biodiversidade do nosso jardim; desenvolver actividades ligadas à natureza e biodiversidade; melhorar a gestão ambiental da água, resíduos orgânicos, energia e emissões de CO2.

O trabalho está a ser feito em todos estes aspectos mas, sendo este um projecto pequeno e com poucos recursos – para além de gostarmos de trabalhar com parcerias – há coisas que não conseguimos fazer sem apoios (a compra de um carro verde ou uma caldeira a biomassa) pelo que estamos em contacto com várias entidades que, identificando-se com este projecto, ajudam-nos a prosseguir o nosso caminho.

O ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas vai ajudar-nos a fazer o levantamento de todas as espécies florísticas e faunísticas existentes no jardim onde, aliás, já encontrámos pelo menos uma que está protegida e em vias de extinção: feto-folha-de-hera ou Asplenium hemionitis L.) e que vamos ajudar a preservar.

Estamos também a finalizar acordos de parceria com o Centro de Investigação em Gestão do ISG (CIGEST) para o lançamento de iniciativas ligadas à proteção da biodiversidade, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, para além do lançamento já efectuado do nature sketching, em colaboração com a Quercus.

Estamos ainda a monitorizar o nosso consumo de electricidade (o produto EDP Verde garante que a quantidade de energia equivalente ao nosso consumo é produzida através de fontes renováveis) com a ajuda da AMES – Agência Municipal de Energia de Sintra. E a Ford disponibilizou-se para nos ceder o novo Focus Eléctrico, com lançamento previsto para Abril.

Quanto pode custar a um cliente passar uma noite no Almáa?

Temos camas em dormitórios de 8, 5 e 3 pessoas e quartos duplos, com e sem casa de banho privativa, todos com preços diferentes. Em época baixa, o preço varia entre os € 18 por pessoa no dormitório de 8, até aos € 28 por pessoa (€ 56 o quarto) no duplo com casa de banho privativa (suite). Em época alta, o preço oscila entre os € 24 e os € 34 por pessoa. O pequeno-almoço está incluído.

Para além da estadia, que outro tipo de entretenimento e equipamento ligado à sustentabilidade podem os vossos clientes usufruir?

Neste momento não temos ainda movimento suficiente para manter actividades regulares. No entanto, a pedido, temos diversas actividades, tais como o nature sketching, já referido em colaboração com a Quercus, e diversos tipos de passeios pela Serra – inclusivamente com o intuito de reconhecer e educar sobre plantas medicinais e/ou comestíveis e sua utilização. Os acordos de parceria com os ICNF e com o CIGEST – e outros que possam surgir – possibilitam o lançamento de outras iniciativas.





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