Alterações climáticas ameaçam aves marinhas que nidificam na costa atlântica



Tempestades cada vez mais fortes e duradouras e a escassez de alimento são duas das consequências das alterações climáticas que estão a colocar em risco a sobrevivência de dezenas de espécies de aves marinhas que constroem os seus ninhos ao longo das costas do oceano Atlântico.

Um conjunto de investigadores da Sociedade Zoológica de Londres e da Universidade de Cambridge criaram o que dizem ser o primeiro guia de conservação que tem como objetivo principal proteger 47 espécies de aves marinhas, e um vislumbre de “esperança para o futuro” desses animais. O documento pode ser descarregado gratuitamente.

A pressão do aquecimento global e dos efeitos potencialmente devastadores levam os cientistas a estimar que 68% dos locais de nidificação do papagaio-do-mar (Fratercula arctica) na Europa ocidental poderão desaparecer até 2100. Para a torda-mergulheira (Alca torda) e para a andorinha-do-mar-ártica (Sterna paradisaea) o cenário será ainda mais negro, com perdas dos locais de nidificação estimadas de 80% e 87%, respetivamente.

Papagaio-do-mar (Fratercula arctica)
Crédito: Seppo Häkkinen

Por isso, os especialistas apelam a que sejam tomadas “medidas urgentes” para evitar o colapso destas populações de aves marinhas, “um dos grupos de aves mais ameaçado em todo o mundo”, segundo Henry Häkkinen, tendo já sido registadas perdas populacionais “rápidas” a nível global, “devido aos impactos das atividades humanas e das alterações climáticas”.

Andorinha-do-mar-ártica (Sterna paradisaea)
Crédito: Mark Peck
Fonte: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA)

O pós-doutorando do Instituto de Zoologia da Sociedade Zoológica de Londres assinala que “é impensável que o papagaio-do-mar, uma das aves marinhas da Europa mais acarinhada, possa desaparecer das nossas costas até ao final do século”.

As aves marinhas enfrentam mais ameaças do que os ‘parentes’ exclusivamente terrestres, porque, apesar de se reproduzirem em terra, dependem do mar para se alimentarem. Mas é precisamente essa existência “entre dois mundos” que torna essas espécies “essenciais a ambos os ecossistemas”, diz Häkkinen, pelo que a sua perda “terá impacto em inúmeros outras espécies e na sua conservação”.

Torda-mergulheira (Alca torda)
Fonte: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA)

Com 274 páginas, em que são abrangidas 47 espécies de aves marinhas, a sua caracterização ecológica e as medidas que os Estados devem implementar para protegê-las e assegurar a sua sobrevivência, o guia agora lançado resultou de um projeto de dois anos e reuniu contributos de mais de 80 conservacionistas e outros especialistas de 15 países europeus.

“As aves marinhas são migratórias, voando grandes distâncias através dos mares e oceanos, e por isso, para realmente conseguirmos reforçar os esforços de conservação, temos de compreender como as alterações climáticas estão a alterar os seus ambientes”, destaca Häkkinen, apontando que isso requer medidas que sejam especificamente desenhadas para cada uma das espécies e das ameaças que enfrentam.

Nathalie Pettorelli, a gestora do projeto que culminou na produção do guia, refere que “os desafios levantados pelas rápidas mudanças das condições climáticas exigem uma coordenação eficiente entre a ciência, a política e a sensibilização, para assegurar que questões fundamentais são priorizadas e para que ações de conservação possam ser implementadas em área onde são mais necessárias”.





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