Alterações climáticas: Aquecimento global e poluição ameaçam 90% das espécies marinhas em todo o mundo, alerta estudo



Um grupo de cientistas do Canadá, Filipinas, Alemanha e Reino Unido acreditam que, num cenário de emissões elevadas de gases poluentes, quase 90% das cerca de 25 mil espécies analisadas estarão em risco ‘elevado’ ou ‘crítico’. E alertam que “as alterações climáticas estão a ter impactos em virtualmente toda a vida marinha”.

Daniel Boyce, o principal autor de um estudo publicado na revista ‘Nature’, explica que “o aquecimento dos oceanos e os extremos climáticos” estão a forçar as espécies de animais marinhos a deslocarem-se para zonas mais fundas dos mares e para latitudes mais elevadas, onde as águas são mais frias, “alterando o seu comportamento e reconfigurando os ecossistemas marinhos de formas radicais e sem precedentes”.

Reconhecendo que “alguns impactos poderão ser benéficos”, o cientista da Universidade de Dalhousie argumenta que “muitos são prejudiciais, dificultando a compreensão dos efeitos do clima nas espécies e nos ecossistemas”.

“Apesar desses desafios, precisamos urgentemente de perceber como as alterações das condições climáticas afetam a vida marinha”, afirma, para ser possível criar estratégias de adaptação que protejam eficazmente essas espécies ameaçadas.

Os especialistas desenvolveram um ‘índice de risco climático para a biodiversidade’, através da análise de aproximadamente 25 mil espécies marinhas e dos respetivos ecossistemas, que permite “apoiar abordagens climáticas para gerir e conservar a vida marinha”.

A análise permitiu perceber como as características de cada espécie, como as suas dimensões corporais e a capacidade de regulação térmica, respondem às condições oceânicas em todos os lugares em que estão presentes.

Assim, foram criados perfis climáticos para cada uma das espécies abrangidas pelo estudo, para ser possível compreender como podem ser afetadas pelas alterações do clima, “desde o plâncton microscópico a grandes predadores e baleias, em todo os ecossistemas marinhos dos trópicos até aos pólos”. E as avaliações basearam-se em dois cenários hipotéticos: um em que as emissões de gases poluentes são reduzidas e outro em que essas emissões são elevadas.

No pior cenário equacionado, os cientistas estimam que a temperatura média global dos oceanos aumentará entre três e cinco graus centígrados até 2100, colocando cerca de 90% das espécies analisadas em risco climático ‘alto’ ou ‘crítico’.

A ameaça será maior sobre os ecossistemas tropicais e subtropicais, “que tendem a ser ‘pontos quentes’ de biodiversidade” e sobre os ecossistemas costeiros, onde 96% de todo o peixe consumido no mundo é pescado.

Nas simulações feitas, os predadores de topo, como os tubarões e os atuns, apresentavam um risco “significativamente maior” do que outras espécies “mais abaixo na cadeia alimentar”, o que poderá levar a “efeitos massivos na estrutura e funcionamento dos ecossistemas”.

E os efeitos serão também sentidos pelas comunidades humanas. Nesse cenário de altas emissões, os riscos enfrentados por espécies de bacalhau e lagosta “eram consistentemente maiores em territórios de nações de baixos rendimentos, onde as pessoas dependem mais da pesca para as suas necessidades nutricionais”, salienta Boyce.

“Isto representa mais um exemplo de desigualdade climática, em que países de baixos rendimentos que menos contribuíram para as alterações climáticas, e estão a reduzir mais agressivamente as suas emissões, estão a experienciar os seus priores impactos, ao mesmo tempo que têm menos capacidade para se adaptarem a eles”, critica o cientista.

Ele destaca que “estamos numa encruzilhada” e que “escolher um caminho mais sustentável que priorize a mitigação climática resultará em benefícios claros para a vida nos oceanos e para as pessoas”.

No revés da medalha, o cenário de baixas emissões prevê que a temperatura média dos oceanos aumente entre um e dois graus centígrados, em linha com a meta de aquecimento global de dois graus estabelecida pelo Acordo de Paris de 2015. Ou seja, este é o cenário ideal, embora já vários observadores considerem que esse objetivo não será alcançado e que o planeta aquecerá muito além da meta dos dois graus.

Contudo, nesse cenário, 98,2% das espécies analisadas no estudo apresentam um “risco climático reduzido”, e as ameaças aos ecossistemas, à biodiversidade e às comunidades de mais pobres serão “grandemente reduzidas ou eliminadas”.

“Cortar as emissões é a abordagem mais direta para reduzir os riscos climáticos”, sentencia Boyce, mas acrescenta que “mesmo com uma forte mitigação, o nosso estudo sugere que as alterações climáticas continuarão a afetar a vida marinha”.





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