Alterações climáticas causarão “choques” na produção global de café



A grande maioria do café produzido em todo o mundo está dependente de apenas duas espécies: a Coffea arabia e a Coffea canephora. Tal como outras espécies vegetais, o seu desenvolvimento está sujeito às condições ambientais, especialmente à temperatura atmosférica e à chuva.

Estima-se que a temperatura ideal para a C. arabica se situe algures entre os 18 e os 22 graus Celsius, enquanto que a C. canephora prefere climas mais quentes, entre os 22 e os 20 graus. Quanto à precipitação, para a primeira dá-se melhor com até dois mil milímetros (mm) por ano, ao passo que a segunda singra entre os dois mil e os 2.500 mm por ano.

No entanto, investigadores da Austrália alertam que os fenómenos climáticos extremos provocados pelas alterações climáticas podem alterar estas condições e, com isso, afetar negativamente a produção e abastecimento global de café.

Analisando os 12 países que mais produzem café, e que no seu conjunto representam 90% da produção total, os cientistas argumentam que entre 1980 e 2020 fenómenos climáticos extremos têm vindo a ser cada vez mais frequentes, chegando mesmo a acontecer em simultâneo em várias dessas regiões.

“As colheitas de café podem fracassar se a média anual de temperatura e de chuva não estiver dentro dos valores ótimos”, afirma Doug Richardson, que liderou a investigação enquanto fazia parte da agência científica estatal da Austrália (CSIRO) e é o principal autor do artigo publicado na revista ‘PLOS Climate’.

“A frequência de eventos climáticos [extremos] tem vindo a aumentar ao longo dos últimos 40 anos e vemos provas claras de que o aquecimento global está a desempenhar um papel, à medida que os tipos predominantes de eventos climáticos têm mudado de frios e húmidos para quentes e secos”, detalha.

No artigo, os cientistas avisam que as culturas de café, sobretudo de C. arabica, são especialmente sensíveis e, por isso, vulneráveis às alterações climáticas, indicando Richardson que “a produção global de café está cada vez mais sob a ameaça de quebras de safra sincronizadas, que podem ser causadas por fenómenos climáticos extremos que afetam várias áreas produtoras de café em simultâneo”.

No conjunto das regiões analisadas, as áreas de produção de C. arabica no sudeste do Brasil e no sudoeste da Etiópia, dois dos principais produtores desse tipo de café, “estão entre as regiões menos suscetíveis aos fenómenos climáticos extremos”. Por isso, é possível que essas regiões sejam capazes de reduzir, pelo menos em parte, os prejuízos que possam ocorrer noutros países produtores de café.

Os investigadores, ecoando alertas que são frequentemente feitos pela comunidade científica, apontam que, segundo as previsões, os eventos climáticos extremos tornar-se-ão mais frequentes e mais intensos no decorrer das próximas décadas, com temperaturas mais elevadas e com menor precipitação. Como tal, consideram que as alterações climáticas que temos vindo a sentir, em muitos casos dolorosamente, e as projeções para o futuro “sugerem que a produção de café poderá esperar contínuos choques sistémicos como resultado de condições de crescimento subótimas”.

E com as falhas na produção, é expectável que o preço dispare. “Se houver um choque no abastecimento de café num dado ano, e se não houver suficiente café armazenado de anos anteriores, então podemos esperar que o preço aumente”, indica Richardson.





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