Alterações climáticas e falta de presas pressionam baleias-cinzentas no Ártico



Desde a década de 1980 que já foram registados três eventos de grande número de mortes de baleias-cinzentas (Eschrichtius robustus) no Oceano Ártico. Em cada um deles, a população desses cetáceos terá sido reduzida em cerca de 25% em apenas poucos anos.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Science’, investigadores norte-americanos apontam que a causa pode ser as transformações nas condições oceânicas no polo Norte do planeta provocadas pelas alterações climáticas e ambientais induzidas pelos humanos.

“As alterações climáticas estão a afetar uma grande variedade de sistemas globais, com os ecossistemas polares a experienciarem as mudanças mais rápidas”, escrevem os cientistas. Ainda que se saiba que os impactos climáticos afetam de uma forma mais direta espécies que vivem menos tempo e que estão tendencialmente mais abaixo nas cadeias alimentares, as presas, “é menos claro como espécies mais longevas e móveis”, como as baleias-cinzentas, “responderão ao rápido aquecimento polar”.

Foto: Dave Weller / NOAA Fisheries

As mortes observadas nos últimos 40 anos provocadas por esses eventos de mortandade massiva – o mais recente começou em 2019 e acredita-se que ainda continua – surpreenderam os cientistas, uma vez que não era algo que se esperava que acontecesse a uma espécie de grandes dimensões e que vive longos anos como a baleia-cinzenta.

As flutuações térmicas verificadas no Ártico, fruto das alterações climáticas, afetam a extensão de gelo que se forma no mar e a disponibilidade de presas das baleias. E essas podem ser más notícias para esses mamíferos marinhos, especialmente quando essas duas condições se combinam.

“Quando a disponibilidade das suas presas no Ártico é baixa e as baleias não conseguem alcançar as suas áreas de alimentação por causa do gelo marinho, a população de baleias-cinzentas experiencia choques fortes e rápidos”, explica Joshua Stewart, investigador da Universidade Estadual do Oregon, no Estados Unidos da América, e principal autor do estudo.

Apesar de poderem viver até aos 60 anos e de serem uma espécie migradora, essas baleias “são sensíveis aos impactos das alterações climáticas. Quando ocorrem declínios súbitos na qualidade das presas, a população de baleias-cinzentas é significativamente afetada”, aponta o ecólogo.

Menos gelo marinho pode, a curto-prazo, permitir que as baleias-cinzentas acedam a mais áreas marinhas, para se alimentarem através de filtração de pequenos crustáceos que vivem perto do leito marinho. No entanto, os cientistas dizem que, a longo-prazo, pode ser prejudicial, porque esses crustáceos dependem de algas que crescem no gelo.

“Com menos gelo, temos menos algas, o que é pior para as presas da baleia-cinzenta”, observa Stewart, que alerta que “todos estes fatores estão a convergir para reduzir a qualidade e disponibilidade de alimento de que elas dependem”.

Como sobreviveram a transformações ambientais de vários tipos ao longo de centenas de milhares de anos de história evolutiva, Stewart não acredita que as alterações climáticas atuais possam ditar a extinção da espécie. “Mas precisamos de pensar criticamente sobre o que essas mudanças podem significar no futuro. Um Oceano Ártico que aqueceu significativamente pode não ser capaz de suportar 25 mil baleias-cinzentas como o fez no passado recente”, sublinha.





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