Alterações climáticas estão a alterar ciclos de nutrientes nos mares e oceanos
À medida que o planeta se torna mais quente, fruto do aquecimento global acelerado e intensificado pelas emissões poluentes de atividades humanas, algumas zonas dos mares e oceanos da Terra podem vir a sofrer grandes quebras na disponibilidade de nutrientes que são a base desses ecossistemas.
Num artigo publicado esta semana na revista ‘PNAS’, investigadores da Universidade da Califórnia, em Irvine (Estados Unidos da América), usaram modelos digitais para prever os efeitos das alterações climáticas antropogénicas na vida marinha. Por isso, alertam que “podem ocorrer efeitos em cascata na teia alimentar”.
Ao analisarem perto de 50 anos de dados sobre a quantidade de nutrientes nos ambientes marinhos e oceânicos, os investigadores perceberam que, durante o último meio século, a abundância de fósforo nos oceanos do hemisfério sul caiu a pique. Tal como, em terra, é fundamental para o crescimento das plantas, incluindo na agricultura, o fósforo é um nutriente central das teias tróficas também nos mares e oceanos, pois servem de “alimento” a pequenas algas fotossintéticas (fitoplâncton) que, por sua vez, são o alimento dos animais que estão base das cadeias alimentares.
Assim, com menos fósforo, as microalgas serão menos nutritivas, afetando, consequentemente, o crescimento dos animais que delas se alimentam, num “efeito dominó” com consequências potencialmente desastrosas.
“Quando o fitoplâncton tem menos fósforo, torna-se menos nutritivo, o que pode prejudicar a taxa de crescimento do zooplâncton e dos peixes”, explica, em comunicado, Skylar Gerace, primeiro autor do artigo.
Por outro lado, os níveis de nitrato, contrariamente ao esperado, parecem ter-se mantido relativamente estáveis durante o mesmo período estudado. Recordando que é essencial ao funcionamento dos ecossistemas marinhos, os investigadores não excluem a possibilidade de, num futuro mais quente, a abundância do nitrato vir a diminuir.
Com base nos dados analisado e nos modelos computorizados, a equipa refere que quando os mares e oceanos se tornam mais quentes, tornam-se também mais estratificados, o que cria “barreiras” à circulação de nutrientes das camadas mais frias e mais inferiores para as camadas mais quentes e mais próximas da superfície.
Embora apontem que este estudo é o primeiro a confirmar a ligação entre as alterações climáticas e alterações nos ciclos de nutrientes marinhos, os investigadores querem ainda perceber o que está a acontecer nos oceanos do hemisfério norte, com o que esperam obter uma imagem global dos impactos da crise climática nos mares e oceanos do nosso planeta.