Alterações climáticas estão a ter “impactos catastróficos” nas espécies migradoras



As alterações climáticas estão a ter já “impactos catastróficos” em várias espécies de animais migradores e a afetar negativamente os serviços de ecossistema que elas fornecem aos humanos.

Essa é a principal conclusão de um relatório divulgado este domingo, em plena cimeira climática COP28, pela Convenção das Nações Unidas para a Conservação das Espécies Migradoras de Animais Selvagens (CMS).

De acordo com os especialistas, os efeitos das transformações do clima da Terra, impulsionadas pelas emissões de gases com efeito de estufa geradas pelas atividades humanas, estão a levar algumas espécies a deslocarem-se em direção aos polos, para regiões mais frias, a mudar as épocas de migração e a reduzir o sucesso da reprodução e a taxa de sobrevivência dos animais.

Por exemplo, mares mais quentes afetam negativamente a reprodução e a sobrevivência do krill, pequenos crustáceos que são a base da alimentação de muitas espécies marinhas, incluindo mamíferos, como as baleias de barbas, e a aves. Com a redução da abundância de krill, serão afetadas todas as espécies que dele dependem para viver.

Além disso, a subida da temperatura média da Terra está a antecipar as migrações e a empurrar a espécies migradoras cada vez mais para os polos, e a antecipar a reprodução. Isso poderá fazer com que os períodos de migração e de reprodução fiquem desfasados das alturas em que as presas são mais abundantes.

A par de tudo isso, secas cada vez mais intensas e duradouras, incêndios de grandes dimensões e impactos e outros eventos climáticos extremos estão a agravar a degradação dos habitats e ecossistemas, levando à destruição de locais usados por espécies migradoras, como peixes e aves, para nidificarem e alimentarem-se.

Amy Fraenkel, diretora-executiva da CMS, recorda que as vidas das espécies migradoras regem-se pelos “ritmos do nosso planeta” e dependem “de um equilíbrio delicado, viajando grandes distâncias para alcançarem habitats especificamente adequados à sua sobrevivência e reprodução”.

No entanto, “as alterações climáticas estão a perturbar gravemente estas vias críticas, alterando ecossistemas e afetando a disponibilidade de alimento”, afirma a responsável, alertando que os impactos já observados e sentidos “salientam as implicações mais vastas das alterações climáticas não apenas para estas espécies [migradoras], mas para toda a teia de vida interconectada da Terra”.

As espécies migradoras, seres que percorrem grandes porções do planeta regularmente, afetando e sendo afetadas pelas condições dos habitats que visitam, uma vez que, por exemplo, agem como dispersores naturais de sementes e de nutrientes, e podem ajudar a mitigar as alterações climáticas ao sequestrarem carbono no solo ou no leito marinho através da decomposição das suas fezes.

“As espécies migradoras podem também contribuir para a adaptação às alterações climáticas ao aumentarem a resiliência dos ecossistemas”, diz a CMS em comunicado. “Por exemplo, o guano das aves marinhas aumenta os nutrientes disponíveis para o crescimento dos recifes de coral, o que, por sua vez, reduz a erosão costeira.”

Além de defenderem a conservação dos habitats usados pelas espécies migradoras em toda a sua distribuição, os especialistas da CMS apelam a uma maior cooperação entre os vários países onde as espécies ocorrem para se estabelecerem redes de áreas protegidas “abrangentes e bem interligadas”. E admitem que é possível que, em alguns casos extremos, seja necessária a intervenção humana para transferir populações vulneráveis de espécies migradoras para locais mais adequados à sua sobrevivência e prosperidade num planeta cada vez mais quente.

Colin Galbraith, um dos autores do documento, explica que as “evidências científicas robustas” apresentadas no relatório mostram que “as alterações climáticas estão já a ter um impacto significativo em muitas espécies por todo o mundo que dependem da migração para a sua sobrevivência”.

Avisando que estamos numa corrida contra o tempo para assegurar o futuro de “muitas espécies icónicas”, o especialista pede que os governos “usem este relatório para agir, procurando soluções baseadas na natureza que ajudarão as espécies migradoras e que podem reduzir os impactos das alterações climáticas”.





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