Alterações climáticas: Perda de biomassa nas florestas tropicais pode aumentar emissões de carbono



Os ecossistemas tropicais têm capacidade para reter mais de metade de todo o carbono aprisionado, a nível global, acima do solo, retendo-o na sua biomassa, como nos troncos das árvores ou nas folhas. Por isso, a perda de biomassa tropical reduz essa capacidade de sequestro e pode fazer aumentar o volume de emissões.

Os efeitos das alterações climáticas, como secas prolongadas e cada vez mais intensas, estão a reduzir essa quantidade de matéria orgânica acumulada nas florestas tropicais, impulsionando um ciclo vicioso: alterações climáticas geram perda de biomassa, a perda de biomassa aumenta a quantidade de carbono na atmosfera e mais carbono intensifica as alterações climáticas.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Climate Change’, investigadores dos Estados Unidos e do Brasil dizem que nos ecossistemas tropicais a água desempenha “um papel fundamental” na distribuição da biomassa e que os efeitos das mudanças no clima e na precipitação nessas regiões do planeta sobre a biomassa e o sequestro de carbono ainda são pouco conhecidos.

“As regiões húmidas têm muito mais biomassa, ou carbono, do que as regiões mais secas”, explica Maria del Rosario Uribe, da Universidade de Yale e uma das autoras do artigo. “Se as áreas tropicais mais húmidas reduzirem devido às alterações climáticas, então é também provável que percamos a enorme quantidade de carbono que elas armazenam”, aponta.

O trabalho recorreu a imagens de satélite da biomassa acima do solo nas regiões tropicais na América do Sul, em África e na Ásia e compararam-nas com dados os últimos 70 anos para poderem não só perceber a evolução da biomassa nessas zonas, mas também para poderem traçar previsões sobre o que o futuro poderá ter reservado.

Os modelos criados pelos investigadores indicam que se as emissões de carbono geradas pelas atividades humanas se mantiverem elevadas, a capacidade de sequestro de carbono pela biomassa tropical pode reduzir para metade até 2100. Mesmo num cenário de emissões reduzidas, assistiremos à perda de, pelo menos, parte dessa capacidade.

“Estratégias de mitigação climáticas podem prevenir metade das perdas de carbono” e ajudar a manter as zonas tropicais como sumidouros de carbono, escrevem os cientistas.

Paulo Brando, da Universidade de Yale e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e outro dos autores do artigo, recorda que “os trópicos retêm uma quantidade considerável de carbono, quase 20 anos de emissões humanas a nível global”.

Para o investigador, este trabalho mostra que “os ecossistemas tropicais podem resistir a muitas alterações climáticas, mas o futuro destes ecossistemas dependerá da forma como protegemos estas áreas contra a desflorestação, a extração de madeira e incêndios causados pelos humanos”.





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