Alterações climáticas poderão ter estado na base da queda do Império Romano do Oriente
Um período anormalmente frio ocorrido na Euroásia, a partir de 535 d.C., terá sido preponderante numa mudança de poder nesta região nos séculos seguintes, de acordo com um estudo da Swiss Federal Research Institute, que analisou dados retirados dos anéis das árvores de duas regiões: os Alpes e as montanhas Altai, entre a Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão.
Utilizando estes dados, a equipa suíça pôde confirmar a existência de uma Pequena Idade do Gelo a partir de 535 d.C, uma alteração climática que foi exacerbada por erupções vulcânicas que provocaram descidas de temperaturas drásticas em 536, 540 e 547 d.C. “Esta foi a descida de temperatura mais drástica no Hemisfério Norte nos últimos 2.000 anos”, explicou o pesquisador-chefe Ulf Buntgen.
Esta mudança climática afectou o fornecimento de alimentos e contribuiu para uma era de fome no Império Romano do Oriente, cuja população sofria, paralelamente, da pandemia da praga de Justiniano, que matou milhões durante vários séculos.
Paralelamente, este arrefecimento global foi uma bênção para a produção agrícola da Península Arábica e levou a uma lenta mudança de poder na região, em favor do Império Árabe. “Este período testemunhou uma série de levantamentos sociais”, explicou em comunicado o Swiss Federal Research Institute, cujo estudo teve o contributo de uma equipa de naturalistas, historiadores e linguistas. “Depois da fome, a praga de Justiniano estabeleceu-se entre 541 e 543 d.C., matando milhões de pessoas nos séculos seguintes e contribuindo, possivelmente, para o declínio do Império Romano do Oriente”, explica o estudo.
Ainda assim, Ulf Buntgen prefere não extrapolar as conclusões do estudo. “Temos de permanecer cautelosos sobre as causas ambientais e o efeito político [desta era gelada], mas é incrível a forma remota como esta alteração climática se alinha com uma grande fase de turbulência em várias regiões”, concluiu o principal investigador desta teoria.
Foto: Davidlohr Bueso / Creative Commons