Alterações climáticas ‘preferem’ aves mais pequenas e com asas mais longas



As aves estão a tornar-se mais pequenas e a desenvolver asas mais compridas à medida que o planeta se torna mais quente. A conclusão é de uma recente investigação científica que revela que as alterações climáticas estão a afetar a morfologia das aves.

Os investigadores, que assinam um artigo publicado esta semana na revista ‘PNAS’, combinaram a análise de dados sobre o tamanho do corpo e o comprimento das asas de mais de 86 mil espécimes de aves, representando 129 espécies, recolhidos ao longo de quatro décadas nas Américas do Norte e Sul. E perceberam que, além dessas transformações generalizadas, as espécies de aves mais pequenas são as que mais rapidamente estão a ‘encolher’ e a desenvolver asas mais longas.

Apesar disso, Benjamin Winger, ornitólogo da Universidade do Michigan, nos Estados Unidos da América, e um dos principais autores do artigo, afirma que é preciso investigar mais para saber ao certo que mecanismos estão a impulsionar essas mudanças morfológicas.

A espécie Regulus satrapa foi uma das abrangidas por este estudo.
Foto: Peter Waycik / Wiki Commons

A investigação baseou em dados de outros dois estudos anteriores, que analisaram o tamanho do corpo e das asas de aves em Chicago e na Amazónia, tendo concluído que essas transformações ao aumento da temperatura ocorrido nos últimos 40 anos, sugerindo que as aves mais pequenas são as que melhor se conseguem adaptar aos efeitos das alterações climáticas.

Resta também saber por que razão as espécies mais pequenas são as que apresentam ritmos de transformação mais velozes, embora, ainda sem fundamento científico sólido, os autores deste mais recente trabalho acreditem que se possa dever a uma capacidade para responder mais rapidamente a pressões evolutivas.

“Se a seleção natural estiver a desempenhar um papel nos padrões que observámos”, explica Bria Weeks, outro dos autores, “os nossos resultados sugerem que as espécies de aves mais pequenas podem estar a evoluir mais rapidamente porque enfrentam uma seleção mais forte, são mais responsivas à seleção, ou ambas”.

Seja como for, corpos mais pequenos parecem ser um dos principais traços que permitem às aves lidar com as alterações climáticas que estão a reconfigurar o nosso planeta. Se assim é, então as aves com corpos maiores podem estar especialmente vulneráveis ao risco de extinção à medida que a Terra aquece.

“Os nossos resultados sugerem que corpos maiores podem exacerbar ainda mais o risco de extinção, ao limitarem o potencial de adaptação a mudanças antropogénicas rápidas e contínuas”, explica Marketa Zimova, principal autora do artigo e investigadora da Appalachian State University.

Argumentam os autores que “o tamanho do corpo pode ser um valioso preditor da capacidade adaptativa e de como a evolução contemporânea pode reduzir o risco de extinção de espécies”, pelo que “a relação entre o tamanho do corpo e os ritmos de mudança fenotípica deve ser considerada quando se testam hipóteses sobre a variação das respostas adaptativas às alterações climáticas”.





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