Alterações climáticas: Subida do nível do mar vai acelerar “drasticamente” a erosão das regiões costeiras
As costas rochosas representam mais de metade da extensão das linhas costeiras em todo o mundo, e, até 2100, a subida do nível do mar poderá erodi-las mais rapidamente do que seria de esperar, devido aos efeitos das alterações climáticas.
Investigadores do Reino Unido e da Austrália salientam, num artigo publicado na revista ‘Natura Communications’, que a forma como as costas são afetadas pela transformação do clima da Terra “é de importância central para as infraestruturas e habitantes nessas áreas” e alertam que “a estabilidade das costas rochosas tem sido amplamente negligenciada”.
Recorrendo a modelos de previsão que equacionam vários cenários climáticos, com base em diferentes níveis de emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, os cientistas perceberam que, até ao final do século, as costas rochosas poderão recuar “drasticamente”, a um ritmo sem precedentes, pelo menos, nos últimos três mil anos.
Debruçando-se sobre as costas de Yorkshire e de Devon, no Reino Unido, os especialistas calculam que, em 2100, essas linhas costeiras terão recuado entre 10 e 22 metros devido à erosão provocada pela ação de um mar que ‘invade’ cada vez mais a terra. Os números apontam para que esse ritmo de erosão das costas rochosas possa ser 10 vezes superior ao atual, e afirmam que as estimativas podem ser consideradas “conservadoras”, pelo que a dimensão do problema poderá vir a ser muito maior.
Dylan Rood, um dos autores do artigo, argumenta que “a erosão costeira é um dos maiores riscos financeiros” que as sociedades podem enfrentar, considerando que nessas regiões, por todo o mundo, habitam milhões de pessoas e estão instaladas infraestruturas que valem vários milhares de milhões de dólares, tais como casas, empresas, centrais elétricas, redes de transporte e explorações agrícolas.
“Até costas rochosas que têm estado estáveis nos últimos 100 anos” começarão a demonstrar sinais de erosão acelerada já em 2030, afirma Rood, que avisa que “a erosão das costas rochosas é irreversível” e que “o tempo de limitar a subida futura do nível do mar é agora, antes que seja demasiado tarde”.
E deixa um apelo: “A Humanidade pode controlar diretamente o destino das nossas linhas costeiras, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa”.
No artigo, os autores escrevem que os resultados obtidos apontam que as alterações climáticas terão “um impacto direto” no aumento das ameaças à estabilidade das linhas costeiras por todo o mundo, especialmente das que são constituídas por material rochoso, e que devem ser implementadas medidas que permitam, de alguma forma, reduzir os impactos da subida do nível do mar, num quadro de aumento da temperatura média global.
“Este estudo fornece provas claras de que as costas rochosas devem ser incluídas em planos futuros para responder às alterações climáticas”, sublinham os cientistas, que sustentam que essas estratégias de adaptação das regiões costeiras devem ter por base os vários cenários de subida no nível do mar, e não registos geológicos históricos que não permitem perceber os impactos atuais das alterações climáticas nas costas.