“Ambição não é nada sem ação”: Responsável de alterações climáticas da ONU avisa que países não estão a fazer o suficiente
O secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC) alertou que o mundo está no “limiar” do desastre climático e que os governos do mundo não estão a fazer o suficiente para evitá-lo.
Falando na sessão de abertura da 28.ª Conferência de Bona sobre Alterações Climáticas (SB28), que arrancou esta segunda-feira em Bona, Alemanha, Simon Stiell afirmou que “a tensão entre o interesse nacional e o bem comum global” impede o combate decisivo contra as alterações climáticas, salientando que “ambição não é nada sem ação” e que “nenhuma vida é dispensável”.
Apesar de reconhecer que existe um objetivo global de limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus Celsius e de “criar um futuro sustentável e resiliente para todos”, o responsável da UNFCCC sublinhou que “as alterações climáticas estão a acelerar” e lamentou que “estamos a ficar para trás nas nossas ações para mitigá-las”.
O encontro em Bona pretende estabelecer as fundações para as negociações que terão lugar em novembro deste ano, no Dubai, na próxima cimeira climática global, a COP28, depois de na COP27, no Egipto, não ter sido possível alcançar um claro compromisso por parte dos governos do mundo para abandonarem progressivamente os combustíveis fósseis.
Manuel Pulgar-Vidal, responsável global de energia e clima da WWF, afirma, em comunicado, que “o mundo está numa encruzilhada” e que “as escolhas que fizermos este ano ditarão o futuro” de todos nós.
“Não estamos no caminho certo para limitar o aumento catastrófico da temperatura”, alertou o ambientalista, apontando que “precisamos de sinais e compromissos políticos claros por parte dos nossos líderes” que permitam recuperar “a esperança e a credibilidade nas negociações”.
Apesar de Stiell afirmar que é preciso ouvir a Ciência, que não procura apontar responsabilidades pela atual crise climática nem dizer “quem precisa de fazer o quê”, os países em desenvolvimento alertam que são os povos dessas nações que mais sofrem os impactos das alterações climáticas, embora a sua contribuição para o atual estado do planeta seja muito inferior à dos países mais ricos.
Na sessão de abertura do encontro em Bona, a delegação do Senegal, em representação do Grupo dos Países Menos Desenvolvidos (LDC) das Nações Unidas, recordou que “na maioria dos LDC, a recorrência de eventos climáticos extremos e o aumento da sua frequência nos últimos anos” torna clara a necessidade de maior capacidade de adaptação e de redução do risco de desastres climáticos.
Apontando que o financiamento é “essencial” para assegurar que “nenhum de nós é deixado para trás”, os representantes dos LDC consideram que “precisamos de responder eficazmente às necessidades dos nossos povos em todo o lado, especialmente nos países menos desenvolvidos, que estão particularmente vulneráveis aos efeitos adversos das alterações climáticas”.
“Metas para a redução das emissões são essenciais, e devem continuar a desempenhar um papel central no Acordo de Paris, mas as metas não servem de nada se não forem respaldadas por ações significativas”, aponta Mark Lutes, chefe da delegação da WWF na SB28.