Ambientalistas denunciam poluição do Tejo em Vila Velha de Ródão oriunda de Espanha
O Movimento pelo Tejo – proTEJO constatou ontem que um novo “bloom de algas” de elevada toxicidade, com origem em Espanha, está a contaminar o rio Tejo, em Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco.
À semelhança de anos anteriores, este movimento verificou que a presença destas algas no rio, com elevada toxicidade e cheiro putrefacto, irão “progredir contaminando todo o rio Tejo a montante da barragem do Fratel”, afirmam os ambientalistas, numa nota de imprensa enviada hoje à agência Lusa.
Este “bloom de algas” cianobactérias, que podem produzir cianotoxinas prejudiciais aos seres vivos, resulta da “concentração elevada de nutrientes, nomeadamente fósforo, e das substâncias tóxicas depositadas no fundo das albufeiras da Extremadura espanhola Azutan, Torrejon, Valdecañas, Alcantâra e Cedillo, ao longo de décadas de descargas de águas residuais sem adequado tratamento e das escorrências de fertilizantes agrícolas”, lê-se no comunicado hoje divulgado.
Outro dos fatores é a “permissão à empresa Iberdrola, por parte dos governos de Portugal e Espanha, de livre gestão das descargas de caudais das suas barragens”.
De acordo com os ambientalistas, não se encontram definidos caudais ecológicos entre ambos os países, o que “conduz a uma constante e contínua volatilidade do caudal do rio Tejo com alternância de ausência de caudal e de descargas significativas de água pelas barragens espanholas, que tem como única finalidade maximizar o lucro da produção de energia hidroelétrica, fazendo descargas quando o preço da energia no mercado espanhol se encontra em níveis bastante elevados”.
Em 2021, o governo espanhol colocou um processo de investigação à empresa concessionária destas barragens, a Iberdrola, “pela drástica redução de água para aproveitar o elevado preço para multiplicar a sua produção hidroelétrica”, recorda o Movimento proTEJO.
O terceiro fator está relacionado com as condições de temperatura e luminosidade elevadas nos meses de verão, em que estas barragens armazenam pouca água em resultado do seu esvaziamento artificial.
No comunicado, o proTEJO considera que o ministro do Ambiente e da Ação Climática deve exigir explicações ao seu congénere espanhol já que esta situação, que ocorre ano após ano, constitui “um agravamento adicional do estado ecológico das massas de água do rio Tejo em Portugal em incumprimento da Convenção de Albufeira quanto à obrigatoriedade de garantir o bom estado ecológico das massas fronteiriças e transfronteiriças e em incumprimento da Diretiva Quadro da Água que impõe o objetivo de alcançar um bom estado ecológico das massas de água”.
O Movimento pelo Tejo – PROTEJO acredita que se encontram reforçados os fundamentos para apresentar uma queixa à Comissão Europeia contra os governos de Portugal e de Espanha.
Queixa essa “assente no incumprimento da Diretiva Quadro da Água por permitirem uma gestão das barragens para a produção hidroelétrica com critérios meramente economicistas de maximização do lucro que causa uma deterioração adicional do estado ecológico das massas de água do rio Tejo e impede que se alcancem os objetivos ambientais”, concluem.
No ano passado, quatro associações ambientalistas – proTEJO – Movimento pelo Tejo, Associação para o Desenvolvimento de Sobral Fernando, Movimento de Ação Ecológica e Plataforma de Defesa da Albufeira de Santa Águeda / Marateca – apelaram ao ministro da Ambiente para a urgência de uma intervenção para pôr termo à poluição pelo “bloom de algas”, nas barragens da região, recordando que “a situação ocorre” regularmente, pondo em risco as águas do Tejo.