Ambientalistas exigem o “fim definitivo” das pedreiras da Secil na Arrábida
Uma coligação de sete organizações ambientalistas portuguesas exige o “fim definitivo” das operações de exploração mineral da Secil no Parque Natural da Arrábida, acusando a empresa de estar a comprometer “irreversivelmente” os valores naturais e paisagísticos da região.
O apelo é feito numa Carta Aberta enviada ao presidente do Conselho de Administração do Grupo Secil, Ricardo Pacheco Pires, e ao presidente da Comissão Executiva, Otmar Hübscher. A missiva é assinada pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN), pela Associação Natureza Portugal (ANP|WWF), pela Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS), pelo Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e pela Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável.
Na Carta, as organizações pedem à Secil que apresente “um plano de desativação das pedreiras da Secil no Parque Natural da Arrábida” e que proceda ao “consequente encerramento da sua Fábrica do Outão, com o desmantelamento das instalações e a renaturalização da área afetada”.
“O Grupo Secil, que durante décadas tanto beneficiou dos recursos geológicos da Serra da Arrábida, deve desistir de procurar aumentar a área a explorar e de prolongar por décadas essa exploração”, acusam, e salientam que a empresa “deve agora reconhecer que chegou a altura de fechar o seu ciclo de vida nesta Área Protegida”, zelando “pelo seu bom nome, pelas responsabilidades sociais que tem, pelo respeito do património natural, e pelo potencial de desenvolvimento sustentável da região, tão prejudicado pelas feridas abertas na Serra pela fábrica e pedreiras”.
A coligação ambientalista portuguesa adianta que “a extensa cordilheira da Arrábida afigura-se de uma beleza incomparável e um excecional valor natural, testemunho de processos geológicos ilustrativos da história da vida na Terra e de uma riqueza florística assinalável e única, de valor internacional”.
No entanto, “as suas importantes reservas de massas minerais, de onde se destaca o calcário, cedo levaram à sua exploração”, acrescentam as organizações, lembrando que “foi há cerca de um século, pelas mãos da Secil – Companhia Geral de Cal e Cimento, S.A., que a atividade extrativa industrial na Serra da Arrábida assumiu particular dimensão e impacto, numa sua propriedade no lugar do Outão, bem próxima ao estuário do Sado”.
“O tempo foi passando e ‘os tempos’ mudaram”, avisam.
O apelo surge depois de, em fevereiro, a Secil ter apresentado o Estudo de Impacte Ambiental do “Plano de Pedreira de calcário e marga industrial Vale de Mós A”, que, segundo as contestatárias, consiste na fusão das suas duas pedreiras em Vale de Mós, no Parque Natural da Arrábida, e na “incompreensível ampliação” da área de exploração em mais 18,5 hectares.
“Somados aos perto de 100 hectares de onde atualmente são retiradas as massas minerais para alimentar a Fábrica do Outão, o plano da SECIL procura eternizar uma atividade que tem delapidado o riquíssimo património natural e paisagístico da “Serra-Mãe” (designação atribuída pelo poeta Sebastião da Gama) e do Estuário do Sado”, diz a coligação em comunicado.
As organizações que assinam a Carta Aberta “acreditam que é possível dar uma nova vida à Serra da Arrábida, garantindo a socioeconomia e bem-estar das populações através do turismo de natureza e da majoração dos bens e serviços dos ecossistemas que esta Área Protegida presta”.