Ambiente: o que de positivo e negativo aconteceu em 2015?
Dois mil e quinze ficou marcado, entre outros acontecimentos, pelo Acordo de Paris, há muito perseguido e que traçou importantes objectivos de longo prazo no que toca à política climática global. No entanto, em termos ambientais, este foi apenas um dos vários temas que tiveram em cima da mesa da agenda mediática.
O investigador do Centro de Investigação sobre Ambiente e Sustentabilidade da Universidade Nova de Lisboa, Francisco Ferreira, partilhou dez dos aspectos positivos e negativos – nacionais e internacionais – do 2015, uma espécie de balanço ambiental do ano que na quinta-feira termina. Leia-os neste artigo.
ASPECTOS POSITIVOS
A Encíclica Papal “Laudato Si” sobre o cuidado da casa comum alertou não apenas a comunidade católica mas todo o mundo para a urgência de respeitar um planeta com graves problemas de sustentabilidade.
Alterações climáticas – a adopção do Acordo do Paris traçou importantes objectivos de longo prazo e um novo modelo negocial à escala internacional; à escala nacional, o Quadro Estratégico para a Política Climática definiu o grau de ambição para 2030 em termos de evolução de emissões.
A adopção, em Setembro, dos Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável – uma agenda para o desenvolvimento até 2030 em Nova Iorque foi um marco que agora tem de ter repercussões à escala nacional e local.
Litoral – o relatório do grupo de trabalho intitulado “Gestão da Zona Costeira – O Desafio da Mudança” mostra a fragilidade e a necessidade de actuação nas centenas de quilómetros de costa do nosso país; a demolição, apesar de tímida à escala nacional, de construções clandestinas no Parque Natural da Ria Formosa, tem de ser um exemplo a seguir.
A reintrodução do lince-ibérico em Portugal, apesar da mortalidade de um dos exemplares libertados, é um sinónimo de esperança na presença no nosso território de uma espécie tão relevante e simbólica da nossa fauna.
ASPECTOS NEGATIVOS
Os episódios de poluição atmosférica na China. A uma escala mais pequena, em Portugal, continuámos a ultrapassar os valores-limite de dióxido de azoto nalgumas áreas junto a tráfego intenso em Lisboa e Porto.
O escândalo envolvendo o grupo Volkswagen mostrou que as emissões de diversos poluentes por automóveis, quer dos óxidos de azoto que foram a motivação da denúncia, quer de dióxido de carbono, diferem muito entre a certificação e a realidade e que é absolutamente necessário rever a transparência e fidelidade de todo mecanismo de contabilização das emissões de veículos.
O acidente gravíssimo causado pela ruptura da barragem de armazenamento de águas residuais resultantes da exploração mineira em Mariana no Brasil, para além das mortes verificada e dos enormes prejuízos económicos, está a ser uma enorme catástrofe ecológica.
Os incêndios florestais continuam a pesar muito negativamente no nosso país. Apesar de ter ardido menos que a média do decénio 2005-2014, a área atingida ainda foi demasiado elevada com um total de 3.288 incêndios florestais que resultaram em 62.401 hectares de área ardida, entre povoamentos (23.039 ha) e matos (39.362 ha).
A má qualidade de cerca de 46% dos rios portugueses muito visível nos episódios de poluição no rio Tejo ao longo de vários meses demonstra as dificuldades de cumprimento da Directiva-Quadro da Água, muito exigente em termos de monitorização, área que tem falhado em Portugal nos últimos anos por falta de recursos.
Foto: Senado Federal / Creative Commons