Análise da cera auditiva da baleia azul pode ajudar a salvá-la
Uma nova investigação sugere que as espécies de baleia azul em vias de extinção poderiam ser salvas através da análise da cera dos seus ouvidos. Ao longo da vida, estas baleias acumulam camadas de cera no canal auditivo que formam um tampão que perdura até à sua morte.
Cientistas do Texas analisaram essas camadas de cera, de forma semelhante aos anéis das árvores, para estimar a idade de uma baleia, acompanhar as mudanças nos seus níveis hormonais e averiguar a que produtos químicos foi exposta no oceano. A cera também pode ser usada para descobrir o que tem de ser feito para proteger estes animais do stress, da poluição e de outras ameaças no futuro.
Sascha Usenko, da Universidade Baylor, fez a descoberta usando a cera de uma baleia macho morta com 12 anos de idade. A baleia azul é o maior animal do planeta e faz parte da lista vermelha de espécies ameaçadas.
Com base na cera, foi possível analisar os níveis de testosterona e cortisol durante a vida do animal – no momento da morte, a baleia tinha o dobro de cortisol no sangue do que em qualquer outra altura. Já os níveis de testosterona sugerem que a baleia atingiu a maturidade sexual aos 10 anos de idade.
“O aumento geral do cortisol ao longo da vida do animal pode estar associado a uma variedade de factores, incluindo o desmame, o desenvolvimento, a maturidade sexual, a migração, a disponibilidade de alimentos, as condições ambientais, as mudanças no status social, a exposição a contaminantes acumulados ou o ruído ambiental”, explicou Usenko.
O estudo também mostrou que a baleia tinha acumulado níveis substanciais de poluentes – como pesticidas e retardadores de chama – no seu primeiro ano de vida, durante a gestação ou a amamentação. Já os níveis de mercúrio no tampão – que mede cerca de 25 centímetros – dispararam durante dois períodos distintos no decorrer da vida do animal.
Os investigadores sugerem que a análise do tampão auditivo poderia ajudar a avaliar o impacto das actividades humanas sobre os organismos marinhos e os seus ecossistemas.
“Desenvolvemos uma abordagem única para quantificar os perfis hormonais e contaminantes da vida de uma baleia azul usando o tampão de cera como uma matriz natural, capaz de arquivar e preservar esses perfis temporais”, afirmou Usenko. “Antecipamos que esta técnica irá transformar radicalmente a nossa capacidade de avaliar o impacto humano sobre estas sentinelas ambientais e os seus ecossistemas.”
A baleia estudada, de 21 metros de comprimento, foi atingida fatalmente por um navio na costa da Califórnia em 2007.