Análise Green Savers: John Sculley, o homem que despediu Steve Jobs



A história conta-se em poucas linhas. Em 1983, Steve Jobs convenceu John Sculley, até então CEO da Pepsi-Cola, a exercer a mesma função na Apple. Convenceu-o, leia-se, com uma simples frase: “Você quer vender água com açúcar para o resto da sua vida ou ter a hipótese de mudar o mundo?”.

Sculley não resistiu à abordagem de Jobs e tornou-se CEO da Apple, sendo, então, inseparável de Jobs. O CEO ajudou o criativo a lançar uma versão avançada do Apple II e, mais tarde, do Lisa e do Macintosh. O Lisa foi um falhanço comercial, e as vendas do Macintosh também não satisfizeram os accionistas da multinacional. O resultado? A deterioração da relação entre Sculley e Jobs, tendo este último sido afastado de vários projectos, incluindo do projecto Lisa.

As pressões financeiras e disputas internas da Apple acabaram por tirar o controlo operacional a Jobs e despediram 1.200 colaboradores da empresa. Então, na fase mais complicada de sempre da Apple, o impensável aconteceu: um conselho de administração de seis pessoas, liderado por John Sculley, despediu Steve Jobs.

“Não uso as calças certas para gerir esta empresa”, justificou, na partida, Jobs aos seus ex-colaboradores e colegas de trabalho, num discurso feito de pés descalços e calças de ganga.

O conselho de administração passou a justificar a demissão de Jobs: o criativo andava com um comportamento “não-linear”. Estendia as reuniões para lá da meia-noite, enviava longos faxes aos colegas e convocava novas reuniões para as 7 da manhã!

O resto da história é conhecido. Poucos meses depois, Jobs fundou a NeXT Inc, que conseguiu, apenas um ano depois, um investimento de 15 milhões de euros [R$ 36 milhões] de Ross Perot, o industrial, multimilionário e ex-candidato à presidência dos Estados Unidos.

Jobs decidiu também gastar parte da sua fortuna pessoal, então avaliada em 7,4 milhões de euros [R$ 18,2 milhões], na aquisição da Pixar, uma empresa de computação gráfica em crise e que era detida por George Lucas.

A empresa continuou a passar um mau bocado até 1995, com a produção do filme Toy Story, que rendeu 270 milhões de euros [R$ 660 milhões]. Em 2006, a Walt Disney comprou a Pixar por 5,5 mil milhões de euros [R$13,4 mil milhões].

Entretanto, e apesar de a NeXT nunca se ter tornado num gigante como a Apple, a multinacional de Cupertino, agora liderada por Gilbert Amelio, acabou por comprar a nova empresa de Jobs, em 1996, por 320 milhões de euros [R$ 785 milhões]. No ano seguinte, Jobs voltou à Apple, como conselheiro, e três anos depois regressou ao cargo de CEO. Até há poucos meses.

Quanto a Sculley, saiu da Apple, depois de várias más decisões, em 1993. A revista Portfólio, da Conde Nast, ainda o considera o 14º pior CEO norte-americano de sempre.

Ontem, 6 de Outubro, John Sculley escreveu um texto sobre Steve Jobs, na Business Week. Disse que tiveram uma “incrível amizade e parceria”, que infelizmente durou apenas até à Primavera de 1985, explicou que Jobs o foi buscar porque sabia que o Macintosh iria vender milhões de exemplares – como a Pepsi – e que ninguém em Sillicon Valley percebia de marketing, e lamentou, directa e indirectamente, a sua decisão de despedir o criativo.

No final do texto, deixou uma confissão: “Quando Steve Jobs deixou a presidência executiva da Apple [recentemente], deixei-lhe uma mensagem no email. ‘Steve, devo-te muito. Por causa da tua preocupação, o universo é um bocadinho diferente. E fizeste-o com gosto, design, uma experiência de utilização viciante e produtos sem compromisso que nos fazem sorrir a todos’”.





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