Angola defende ampliação do acesso à tecnologia e verbas na luta contra alterações climáticas
A vice-presidente de Angola defendeu ontem, em Luanda, a ampliação do acesso à tecnologia, ao conhecimento e aos recursos financeiros para travar a poluição e a perda da biodiversidade, problemas que ainda afetam a humanidade e “injustamente” África.
Esperança da Costa fez esta observação quando procedia à abertura da Conferência Regional da Organização Pan-Africana das Mulheres (OPM), no âmbito da celebração dos seus 61 anos de existência.
No discurso de abertura da conferência, subordinada ao lema “A Resiliência da Mulher Africana: O Contributo ao Setor da Agricultura para a Adaptação às Alterações Climáticas”, a governante considerou que mais do que mitigação, é preciso adotar-se os mecanismos de adaptação, fortalecendo o lema “África que queremos”, da Agenda 2063.
“A África capaz de criar condições para a sua segurança alimentar e nutricional, para o emprego, o rendimento familiar, considerando a Declaração de Malabo, que no fundo, nos dão a oportunidade de avaliar os aspetos materializados e propor uma revisão mais impactante, no âmbito dos desafios da agricultura e das alterações climáticas”, disse.
A vice-presidente de Angola sublinhou que as alterações climáticas representam uma ameaça real à humanidade, à manutenção da vida no planeta, que impõe, com urgência, a adoção de modelos de desenvolvimento de baixo carbono e a realização de um conjunto de investimentos estruturantes, tendentes ao fortalecimento da resiliência das sociedades e economias.
“Para tal, necessitamos de ampliar o acesso à tecnologia, ao conhecimento e aos recursos financeiros com vista a travar a poluição, a perda da biodiversidade, problemas que ainda afetam, em larga medida, a humanidade, que vem sofrendo perdas e danos e injustamente África, que pouco ou nada contribui para o fenómeno das alterações climáticas”, destacou.
Na sessão de abertura, a comissária da União Africana (UA) para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável, Josefa Sacko, chamou atenção para o facto de as alterações climáticas estarem a ter “um impacto negativo na alimentação e forragem dos animais, e na disponibilidade de água, aumentando o stresse térmico e alterando a distribuição de pragas e doenças, o que conduz a uma diminuição da produtividade animal e, em última análise, à insegurança alimentar e à redução do poder de compra das famílias”.
“Estamos a verificar isso em toda a África e isso é muito perigoso. Estamos a registar golpes de Estado, manifestações, descontentamentos, no âmbito social”, referiu Josefa Sacko.
A angolana sublinhou que se prevê que África seja uma das regiões mais afetadas em termos de segurança alimentar, destacando que, até 2025, estima-se que 54% do aumento previsto dos níveis de subnutrição no mundo, se verifiquem no continente africano.
Sacko disse que a comissão da UA aconselha para a região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) elencar algumas áreas de ação prioritárias, como definidos no Plano de Ação Estratégico para Alterações Climáticas e o desenvolvimento resiliente, como promover a partilha equitativa dos riscos climáticos e da recompensa entre todos os atores do sistema alimentar, especialmente as mulheres e os pequenos agricultores rurais.
A comissária da UA citou também o reforço da resiliência dos sistemas alimentares contra os efeitos climáticos, dando simultaneamente ênfase aos resultados nutricionais e ao planeamento integrado, à produção no sentido da transição agroecológica, cultura que já existe em África, para reduzir a intensidade dos gases com efeito estufa (incluindo o metano dos rebanhos) e a dependência de fatores de produção externa.
O reforço das intervenções de governação do sistema alimentar em todos os Estados-membros da SADC e de financiamento, investimento e afetação de recursos, são igualmente recomendações, que cumpridas poderão “reforçar as oportunidades de negócios que o potencial da sua agricultura oferece, tendo como alvo o empoderamento das mulheres neste setor com vista a melhor enfrentar as alterações climáticas”, referiu Josefa Sacko.
As discussões na conferência decorreram em torno das linhas gerais do Plano de Ação de Recuperação do Verde e dos Impactos Intersetoriais das Mudanças Climáticas, Género e Migração.
Participaram na conferência representantes da África do Sul, Lesoto, Zâmbia, Angola, Uganda, Essuatíni, Moçambique, Namíbia e Zimbabué.