Animais expulsos do seu habitat devido às temperaturas mais elevadas
Os animais terrestres que vivem em climas tropicais em todo o mundo estão a ser levados aos limites fisiológicos do seu corpo, enquanto lutam para se adaptarem ao aumento das temperaturas provocado pelas alterações climáticas.
É o que revela um importante estudo global sobre 460 animais de sangue frio terrestres e marinhos, que comparou as temperaturas e as zonas onde estes animais vivem atualmente com as regiões onde poderiam viver, com base na sua tolerância às variações de temperatura.
O estudo, que envolveu cientistas da Universidade Nacional Australiana (ANU), concluiu que é provável que a deslocação generalizada ocorra a um ritmo acelerado nos oceanos do mundo, uma vez que os peixes e outros animais marinhos serão forçados a abandonar os seus habitats, tentando procurar refúgio em locais mais frios.
A coautora do estudo, Joanne Bennett, da ANU, afirmou que isto representa uma má notícia para as espécies marinhas australianas que têm como lar a icónica Grande Barreira de Coral.
Espécies marinhas são provavelmente mais vulneráveis às alterações climáticas
“As espécies marinhas são provavelmente mais vulneráveis às alterações climáticas porque já estão a viver no limite da temperatura que os seus corpos conseguem suportar. Se os locais a que chamam lar ficarem ainda mais quentes, os seus corpos não serão capazes de os suportar”, afirmou Bennett, acrescentando que “sabemos que os oceanos estão a aquecer a um ritmo surpreendentemente rápido, o que obrigará a fauna marinha a abandonar as suas casas em busca de pastagens mais frescas”.
Segundo a investigadora, “ambientes tropicais como a Grande Barreira de Coral podem abrigar muitas espécies porque são ricos em recursos. Sabemos que as criaturas que dependem dos recifes, dependem da estrutura do habitat para sobreviver”.
Mas, continua, “se as espécies são forçadas a viajar para novas profundidades, onde é mais frio, isso significa que se deparam com um novo ambiente e não há garantias de que consigam obter os alimentos de que necessitam para sobreviver”.
A rã da espécie Cophixalus neglectus, em perigo crítico de extinção, nativa das florestas tropicais de Queensland, está entre as que foram afetadas por uma “crise de habitação”.
“Estas rãs estão a ser forçadas a sair dos seus habitats naturais porque já não se conseguem adaptar ao aumento das temperaturas. Estão a ser levadas aos seus limites físicos e não têm outra opção senão partir, o que acarreta riscos”, afirmou Bennett, sublinhando que “as regiões tropicais da Austrália são ricas em biodiversidade, apesar de ocuparem apenas cerca de um por cento da nossa massa terrestre. Em última análise, temos muito a perder”.
“Mas este problema não se limita apenas à Austrália. É uma questão global”, acrescenta.
Os investigadores descobriram que as espécies que vivem em climas mais temperados não estão a viver tão perto do limite do seu limiar térmico fisiológico.
De acordo com Bennett, a razão pela qual estes animais não vivem nos climas mais estáveis dos trópicos não se deve ao facto de não conseguirem suportar o calor, mas sim ao facto de não conseguirem competir com outros animais pela comida e outros recursos que são abundantes nestas regiões.
“Descobrimos que as espécies em ambientes temperados podem lidar com temperaturas mais elevadas do que as que geralmente registam. No entanto, são provavelmente mais suscetíveis a outros fatores relacionados com o clima, como fenómenos meteorológicos extremos, incluindo a seca”, explicou.
“Mas durante os períodos de seca, estas criaturas têm de competir por comida e água e estes recursos tornam-se escassos. Infelizmente, isto significa que alguns animais podem perecer se não forem tão bons a competir por estes recursos”, acrescentou.
Segundo a responsável, os resultados ajudam os investigadores a compreender melhor a sensibilidade das diferentes espécies animais de sangue frio às futuras alterações de temperatura e à medida que as catástrofes provocadas pelo clima, como as secas, se tornam mais frequentes e graves.
“Isto ajudará os cientistas a prever a forma como a distribuição global das espécies poderá mudar à medida que a Terra continuar a aquecer e o clima continuar a mudar”, afirmou.
Esta investigação foi liderada pela Universidade McGill e é uma colaboração entre cientistas do Canadá, Austrália, Espanha, México, Portugal, Dinamarca e África do Sul.