Antártida: ‘Ilhas no gelo’ podem ameaçar espécies nativas
O aquecimento global está a fazer desaparecer o gelo que cobre os solos nas regiões polares do nosso planeta. Isso é já do conhecimento comum. Mas sabe-se agora que o aumento das superfícies livres de gelo na Antártida estão a criar as condições ideais para a proliferação de espécies invasoras de animais e de plantas e ameaça desregular o equilíbrio ecológico no polo sul.
Num artigo publicado na ‘Global Change Biology’, cientistas da Austrália e do Reino Unido afirmam que as áreas na Antártida que estão hoje permanentemente sem gelo cobrirem menos de 1% da região, mas as previsões apontam para que possam vir a cobrir 25% já no final deste século. Apesar de fornecerem habitats “cruciais para a maior parte da biodiversidade terrestre da Antártida”, como as aves marinhas, que precisam dessas terras para nidificarem, essas zonas em que o solo está exposto podem também permitir a instalação de espécies invasoras.
Um clima menos rigoroso na Antártida, fruto do aquecimento global gerado pelas emissões de gases com efeito de estufa das atividades humanas, fará baixar a ‘barreira gelada’ que tem protegido esses habitats remotos face a espécies de fauna e flora que não são nativas da região.
Reconhecendo que o aumento das áreas sem gelo, a que chamam de ‘ilhas no gelo’, trará benefícios claros que algumas espécies, como é o caso do pinguim-gentoo (Pygoscelis papua), que terá mais espaço para construir os seus ninhos e as suas colónias deixarão de estar isoladas, os cientistas alertam que surgirão outros desafios. À medida que for crescendo o contacto entre populações e espécies, maior será também a competição por recursos que passarão a estar ao alcance de muitos mais animais e plantas, uns nativos e outros invasores.
Os investigadores admitem que persistem ainda muitas dúvidas sobre como o aumento da temperatura e das áreas sem gelo poderão afetar a biodiversidade na Antártida, a sua distribuição, a sua fisiologia, a sua abundância e até a sua capacidade de sobrevivência, mas mostram-se certos de que “enfrenta um futuro incerto com um clima em mudança”.
E defendem que “é certamente melhor prevenir a introdução de espécies não-nativas (…) do que tentar erradicá-las ou geri-las depois de estarem instaladas”, pelo que apelam a mais investigações ‘urgentes’ que permitam perceber os verdadeiros impactos do aumento de áreas permanentemente sem gelo sobre a diversidade biológica na Antártida e apoiar programas de conservação.