Antibióticos estão a ajudar mosquitos a espalhar a malária com mais eficiência



Os antibióticos são a forma medicinal mais próxima de uma bala mágica. Normalmente, já não se morre de escarlatina, não se perdem membros devido aos estafilococos e contrair sífilis continua a ser embaraçoso mas é pouco provável que a doença lhe corroa o crânio. Tudo graças aos antibióticos.

Porém, podemos não ser os únicos a beneficiar da prescrição dos antibióticos. Uma nova investigação do Imperial College London revela também os mosquitos podem estar a beneficiar destes medicamentos. Os investigadores descobriram que mosquitos que se alimentam do sangue de pessoas infectadas com malária, e que recebem tratamento com antibióticos, são mais saudáveis, vivem mais e são mais eficientes a espalhar a doença do que os mosquitos que não se alimentam de sangue com antibióticos.

Assim, os mosquitos estão essencialmente a utilizar os antibióticos humanos para seu benefício. O estudo, publicado na Nature Communications, detalha outras consequências do uso dos antibióticos e sugere que muitas iniciativas de saúde global podem estar diante de um novo factor na batalha contra doenças infecciosas em áreas também afectadas pela malária, indica o Motherboard.

A utilização imprópria ou em excesso de antibióticos foi já culpada por criar “super-bactérias” – bactérias mais resistentes que afectam milhões em todo o mundo. Os cientistas começam também agora a perceber a importância do microbioma humano, os milhões de bactérias que vivem no nosso organismo para nosso benefício. Ao matar indiscriminadamente estas bactérias com antibióticos, muitos micróbios benéficos são eliminadas do organismo e as consequências podem ser sérias.

Quando um mosquito ingere sangue que contenha Plasmodium falciparum – o parasita responsável pela malária -, o seu microbioma compete com o parasita pelos recursos disponíveis ao mesmo tempo que emite radicais livres que são tóxicos para o Plasmodium falciparum. Mas enquanto o parasita é enfraquecido pelas bactérias nativas do mosquito, esta nova investigação teoriza que tirar aos mosquitos a sua população de bactérias nativas – o que acontece quando se alimentam de sangue com antibióticos – permite ao agente parasita ganhar a batalha. O resultado traduz-se em mosquitos que albergam parasita mais fortes que o normal, com uma capacidade maior de infecção.

Para comprovar a sua teoria, os cientistas alimentaram mosquitos com sangue que continha penicilina e estreptomicina, antibióticos de uso comum. Ao longo do estudo, os investigadores observaram uma diminuição de 70% do microbioma nativo dos mosquitos e um aumento significante do número de mosquitos que hospedavam o parasita da malária, bem como um aumento da quantidade de parasitas que infectavam os mosquitos.

Com as bactérias nativas reduzidas pelos antibióticos, o Plasmodium falciparum começou a reproduzir-se sem precedentes. Os investigadores confirmaram as observações laboratoriais iniciais com sangue doado de pacientes do Burkina Faso infectados com malária. O efeito verificado foi o mesmo.

Foto:  TEIA / Creative Commons





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