Apesar dos esforços, caça-furtiva continua a empurrar orangotangos para a extinção



O orangotango-do-bornéu (Pongo pygmaeus) é uma de apenas três espécies conhecidas de orangotangos, além do orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) e do recém-descoberto Pongo tapanuliensis. Estes primatas só se encontram na Indonésia e na Malásia, pelo que, devido à distribuição restrita e à pressão de ameaças como a caça-furtiva e a perda de habitat, estão classificados como ‘Criticamente em Perigo’ pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Embora tenham vindo a ser empreendidos esforços para preservar os orangotangos no Bornéu, tendo nos últimos 20 anos movido cerca de mil milhões de dólares em financiamento para a sua conservação, “muitas populações de orangotangos estão no limiar da extinção”, e a caça ilegal continua a ser uma das principais causas.

O alerta é feito num artigo publicado na revista ‘Conservation Science and Pratice’, em que um grupo de cientistas liderado por investigadores da Universidade de Queensland, na Austrália, revela que, apesar das medidas para combater essa prática, a caça-furtiva continua em força.

Através de 431 entrevistas realizadas entre 2020 e 2021 em 79 aldeias na região de Kalimantan, na ilha do Bornéu, os cientistas concluíram que, nos quase 15 anos decorridos desde o último estudo quantitativo sobre a caça de orangotangos, “abates ocorreram em tempos recentes e os nossos dados não indicam uma atenuação clara do comportamento”, escrevem no artigo.

“Trinta por cento das aldeias comunicaram que orangotangos tinham sido mortos nos últimos 5-10 anos, apesar de a prática ser ilegal e tabu, o que também torna difícil ter uma imagem clara da verdadeira escala”, afirma, em comunicado, Emily Massingham, primeira autora do estudo.

Segundo a investigadora, a população de orangotangos do Bornéu terá perdido cerca de 100 mil indivíduos nas últimas décadas, pelo que se estima que agora não existam mais de 100 mil desses animais nessa região, a única onde ocorrem.

“Os nossos resultados não indicam que os projetos de conservação estejam a reduzir os abates, o que salienta a necessidade urgente de melhorar a abordagem coletiva à conservação dos orangotangos”, declara. Isto, porque, de acordo com a cientista, “as mortes por humanos precisam de ser endereçadas” e “podem ainda estar a ocorrer”, representando “uma ameaça real para a espécie”.

As entrevistas às populações locais permitiram obter uma imagem mais nítida sobre as interações negativas e até conflituosas entre humanos e orangotangos, e mostraram que entre as razões avançadas para o abate desses primatas estão a proteção de colheitas e a captura de orangotangos bebés para manter como animais de estimação. Além disso, “os nossos resultados sugerem que dizer às pessoas que os orangotangos estão em declínio não é suficiente para parar o seu abate”, avisam estes investigadores.

“Apesar de um imenso financiamento, o declínio dos orangotangos continua a progredir a um ritmo que as atuais intervenções de conservação parecem incapazes de conseguir aplacar”, pode ler-se no artigo. Como tal, Massingham defende a necessidade de os conservacionistas trabalharem de perto com as comunidades locais que partilham os mesmos espaços com estes primatas não-humanos, para adaptarem as suas ações e projetos aos contextos socioecológicos específicos de cada local, “para compreenderem as suas necessidades e perspetivas, identificarem os fatores sociais que motivam a morte de orangotangos e implementarem soluções que reduzam o conflito humano-orangotango”.





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