Aquecimento dos mares e oceanos faz os peixes-palhaço crescerem mais rápido. Mas serão isso boas notícias?
À medida que a atmosfera aquece, também os mares e oceanos se vão tornando mais quentes, e tornam-se mais frequentes as chamadas ondas de calor marinhas, subidas acentuadas da temperatura marinha que se podem prolongar no tempo e afetar fortemente esses ecossistemas.
Tal como muitas outras espécies que residem nos mares, o icónico peixe-palhaço (Amphiprion ocellaris) poderá sofrer perdas populacionais devido ao aquecimento marinho. O alerta é feito por uma equipa de cientistas do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão, num artigo publicado recentemente na revista ‘Science of the Total Environment’.
O objetivo era perceber de que forma o aumento da temperatura dos mares afeta o desenvolvimento e crescimento das larvas dessa espécie. Para tal, simularam dois ambientes marinhos: um com a água a 28 graus Celsius, a temperatura nos recifes de coral ao largo da costa de Okinawa no verão, e outro com a água a 31 graus, temperatura a que a água pode chegar durante ondas de calor marinhas e que está em linha com as previsões de três graus de aquecimento até 2100 avançadas pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).
Timothy Ravasi, um dos coautores do artigo, explica que a maior parte dos estudos sobre os impactos das alterações climáticas nos peixes-palhaço tendem a focar-se quase exclusivamente em indivíduos adultos ou juvenis.
“Ao focar-nos nos estádios larvares, podemos ter uma imagem mais completa de como os peixes-palhaço podem ser impactados por oceanos mais quentes e pelas alterações climáticas”, argumenta.
Os investigadores estudaram o desenvolvimento de larvas de peixe-palhaço durante 20 dias após a eclosão, que consideram ser um período crítico que poderá ditar o futuro desse animal. Nas águas mais quentes, percebeu-se que os pequenos peixes cresceram mais rapidamente e apresentavam ritmos metabólicos mais elevados.
Nesses primeiros 20 dias, as larvas atravessam sete fases de desenvolvimento, sendo que mal emergem dos seus ovos são arrastados pelas correntes para mar aberto e para longe dos recifes onde nasceram. Ao fim de 10 dias, começam a desenvolver a sua típica coloração alaranjada, sendo que na última etapa de desenvolvimento se fixam numa anémona, com a qual estabelecem uma relação simbiótica e que será a sua casa durante a vida adulta.
Através das experiências, foi possível descobrir que as larvas de peixe-palhaço em águas a 31 graus completaram as suas fases de desenvolvimento dois dias antes das larvas em águas a 28 graus, e que isso se terá devido ao facto de os primeiros apresentarem um ritmo metabólico mais acelerado.
Estes resultados devem ser interpretados com cautela, sugerem os investigadores, uma vez que é difícil afirmar com certeza se o desenvolvimento mais rápido pode pôr em causa a sobrevivência dos peixes-palhaço num oceano cada vez mais quente.
Moore aponta que, se por um lado encurtar os estádios larvares, de maior vulnerabilidade à predação, pode ajudar os pequenos peixes a sobreviverem e a encontrarem novos lares, por outro, um desenvolvimento mais rápido pode fazer com que os peixes não consigam adquirir as quantidades de energia e nutrientes suficientes para suportar um crescimento acelerado.
Os investigadores acreditam ser necessário mais trabalho de investigação para perceber ao certo como é que o aumento da temperatura dos mares e oceanos afeta a sobrevivência dos peixes-palhaço, para ser possível traçar previsões sobre como poderão lidar com os efeitos das alterações climáticas no futuro.
Sendo parte dos recifes de coral, altamente biodiversos e que funcionam sobre dinâmicas precisas de equilíbrio ecológico, o desaparecimento ou a redução drástica das populações de peixes-palhaço poderá ter graves consequências para esses ecossistemas marinhos.
Escrevem os autores que, em última instância, as alterações observadas no desenvolvimento das larvas de peixe-palhaço em águas mais quentes “podem influenciar a persistência futuras das populações”.