Aquecimento dos oceanos pode levar algas a invadir recifes de corais nas próximas décadas
A investigação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) prevê mudanças na configuração dos recifes de corais e migração de peixes do Caribe e do litoral brasileiro nas próximas décadas devido ao aquecimento dos oceanos.
A queda na quantidade de peixes que se alimentam de algas na região tropical pode fazer com que os ecossistemas dos recifes percam a sua diversidade de espécies e tenham predominância de algas já em 2050.
O trabalho projetou as interações tróficas – relativas à alimentação – dos peixes em relação ao aumento da temperatura dos oceanos. Os resultados demonstraram que as interações vão diminuir e que em algumas regiões haverá deslocamento geográfico dessas interações: aquelas que ocorriam, por exemplo, na região tropical vão migrar para a região extratropical, conforme explicou Kelly Inagaki, investigadora do Laboratório de Ecologia Marinha da UFRN.
“Fizémos estas projeções desde a Carolina do Norte até Santa Catarina [ao longo do Atlântico Ocidental], então pode-se dizer que os recifes de toda essa região estão ameaçados ou são propensos a mudar, de acordo com os nossos resultados”, disse a pesquisadora.
A investigadora ressalvou que os registos de órgãos como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Nasa, a agência espacial norte-americana, mostram que a temperatura média dos oceanos tem aumentado ao longo dos anos. “Ações que reduzam a progressão e o impacto das mudanças climáticas são urgentes. Caso contrário, nós estaremos a assumir o risco de perder os ambientes recifais e todos os seus benefícios”, acrescentou.
Os peixes recifais que potencialmente vão migrar dos trópicos são herbívoros e alimentam-se de algas maioritariamente, controlando a abundância desses organismos nos recifes. Conforme afirmou a investigadora, com o aquecimento do oceano, esse controlo ficaria prejudicado devido à migração dos peixes para regiões fora dos trópicos, em busca de temperaturas mais agradáveis.
Uma das possibilidades é que os recifes de corais do Caribe, por exemplo, sejam transformados em recifes dominados por algas. “Os peixes que estão a controlar essas algas, que estão a comer essas algas, vão diminuir. Vamos ter um aumento dessas algas e a competição com corais ou com outros organismos vai ficar mais forte e vai fazer com que as algas dominem esses ambientes”. A investigadora explicou ainda que as algas vivem junto com corais, mas, se eles competem por espaço ou por algum outro recurso, normalmente as algas ganham a competição.
“E um ambiente que passa a ser dominado por algas vai ter mudanças em relação a sedimentos, então pode haver água mais turva, pode haver alteração de nutrientes, de PH ou mesmo dos organismos que estão a viver ali. Nem todos gostam de viver com algas ou gostam de comer algas e, se esse ambiente está a tornar-se dominado por algas, esses peixes e outros organismos vão buscar outros lugares para viver”, disse.
Com o impacto no ecossistema recifal, os benefícios que os recifes oferecem também são afetados, como a pesca, proteção da costa e o turismo. “Por exemplo, no Nordeste, onde as pessoas têm uma atividade económica bastante forte do turismo: se esses ambientes vão mudar, talvez essa atividade de turismo não vá ser tão forte quanto é hoje em dia, e é preciso pensar em alternativas para isso ou preparar-se para o caso de essas mudanças acontecerem”, observou Kelly.
Segundo a investigadora, essas situações – como a observada na pesquisa – são resultados da vivência, da convivência e de existência humana. “Se quisermos mudar alguma coisa, temos que repensar o modo como vivemos. Temos usado recursos naturais de maneira incessante, sem dar tempo de a natureza se reorganizar em relação a isto”. Ela citou a relação da sociedade com a produção de gás carbónico, produção e consumo de alimentos, poluição e produção de energia como elementos a serem repensados.
Com Agência Brasil