Aquecimento global está a tornar os furacões mais intensos na costa atlântica dos EUA, e não só
“O ritmo de intensificação dos furacões tem aumentado significativamente perto da costa atlântica dos EUA ao longo dos últimos 40 anos”, e se não conseguirmos reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, “esta tendência deverá continuar”.
O alerta é feito por um conjunto de investigadores do Pacific Northwest National Laboratory (PNNL), associado ao Departamento de Energia dos Estados Unidos, que publicaram esta semana um artigo na revista científica ‘Geophysical Research Letters’. Os especialistas dizem que essa região está a transformar-se num “terreno fértil para a rápida intensificação de furacões”.
Karthik Balaguru, cientista climático e o principal autor da análise, explica que “um mundo mais quente” cria as condições ideais para a formação de furacões que podem intensificar-se com maior rapidez e, dessa forma, aumentar grandemente os riscos de cheias nas cidades na costa atlântica norte-americana.
“As nossas descobertas têm implicações profundas para os residentes costeiros, bem como para os decisores políticos”, diz Balaguru, acrescentando que o que observaram não se cinge à região do Oceano Atlântico, mas que “está a acontecer em várias regiões costeiras em todo o mundo”.
Contudo, as condições que propiciam furacões mais intensos não são verificadas no Golfo do México, uma área também coberta pela investigação, mas podem desenvolver-se, por exemplo, na linha costeira da Ásia oriental e na costa noroeste do Mar Arábico.
“Algumas tempestades, como o Furacão Ian, que provocou imensos danos e está entre os mais fortes que se aproximou da costa dos EUA, podem, de repente, tornar-se severos”, avançam os cientistas, que apontam que o aumento da temperatura superficial da água do mar ou uma maior concentração de humidade na atmosfera podem fazer com que os furacões rapidamente aumentem de intensidade, “saltando várias categorias num curto espaço de tempo”.
Devido a essa rapidez, os especialistas reconhecem que os melhores sistemas de previsão de furacões podem não ser capazes de fazer soar os alertas antes de as tempestades já estarem formadas, mas a comunidade científica está a trabalhar no desenvolvimento de novas ferramentas que permitam compreender melhor as condições por detrás dessa rápida intensificação e, assim, melhorar a capacidade de antecipação.
“À medida que as temperaturas globais sobem, a superfície da Terra aquece”, mas isso não acontece uniformemente em todo o mundo, explicam os autores, devido aos próprios materiais que compõem a superfície terrestre: rocha, terra, água, árvores. “Tudo aquece a ritmos diferentes” e “o solo, por exemplo, geralmente é mais quente do que o mar”, detalham.
No entanto, com o aumento da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, a diferença entre as temperaturas no solo e nos mares será cada vez maior.
“Ao contrário do oceano, com um fornecimento ilimitado de água, há muito menos água no solo”, diz Lai-yung Ruby Leung, que também assina o artigo, pelo que o solo tem uma menor capacidade para libertar o calor em excesso retido no planeta.
Essa crescente discrepância “pode criar tempestades mais fortes”, avisam os cientistas, porque em terra a pressão atmosférica é menor, ao passo que no mar é relativamente maior, fazendo com que o ar sob pressão seja ‘empurrado’ para terra, onde a pressão é inferior.
Através de modelos de previsão que se basearem num cenário em que as economias mundiais continuarão dependentes dos combustíveis fósseis, e por isso continuarão a emitir gases poluentes, o grupo percebeu, em 2100, estarão reunidas todas as condições para que os furacões sejam ainda mais intensos do que são agora.