Aquecimento global pode causar “invasão” de formigas-de-fogo na Europa

A formiga-de-fogo-vermelha (Solenopsis invicta) é uma espécie nativa dos climas mais quentes da América do Sul. Em menos de 100 anos, espalhou-se por várias regiões do mundo, como os Estados Unidos da América (EUA), a China, a Austrália e as Caraíbas, fixando-se como espécie invasora.

Além de estar munida de uma picada dolorosa que pode causar reações alérgicas, e, nos piores casos, choques anafiláticos, a S. invicta é devastadora para os ecossistemas nos quais se estabelece e para as áreas agrícolas. Estima-se que nos EUA seja responsável por perdas de seis mil milhões de euros por ano, e países como a Austrália gastam milhões em medidas de erradicação da espécie, e a Europa pode ser a próxima grande ‘conquista’ desses artrópodes.

A ação humana tem sido um elemento central da expansão desta espécie. Investigadores italianos e espanhóis dizem que essas formigas viajaram para Espanha, a Finlândia e os Países Baixos em produtos importados, mas até ao momento ainda não tinha sido confirmado que a espécie se tinha, de facto, estabelecido no continente europeu.

Agora, num artigo publicado esta semana na ‘Current Biology’, asseguram que a S. invicta fixou-se em Itália, na região de Siracusa, onde os cientistas identificaram 88 colónias numa área de mais de cinco hectares, abrangendo uma zona estuarina e parte de um parque natural.

Como se trata de uma região isolada, os investigadores creem que o porto comercial de Siracusa será o ponto de entrada mais provável, e apontam que algumas formigas rainhas, dotadas de asas, terão voado dessa zona portuária até ao local onde os seus ninhos foram descobertos.

Com base em análises genéticas, sugerem que estas formigas terão vindo dos EUA ou da China, em contentores. Chegadas a Siracusa, deram início à sua fixação na Europa.

Os cientistas alertam que, o aquecimento provocado pela emissão de gases com efeito de estufa pode, em breve, fazer com que as formigas-de-fogo-vermelhas se espalhem por cerca de 7% do continente europeu, falando mesmo de uma “possível invasão”. E, segundo as previsões dos especialistas, Portugal poderá ser um dos países com condições favoráveis à fixação dessas formigas.

O estudo sugere que metade das áreas urbanas na Europa podem ter as condições climáticas propícias ao estabelecimento desta espécie invasora, sendo que grandes cidades como Barcelona, Roma, Londres e Paris podem vir a ser “consideravelmente afetadas”.

Para Mattia Menchetti, investigador do Instituto de Biologia Evolutiva da Universidade Pompeu Fabra (Espanha), é essencial coordenar esforços “para a deteção antecipada e resposta rápida” em Siracusa, “para gerir com sucesso esta nova ameaça, antes que ela se alastre incontrolavelmente”.

Visto que a S. invicta é frequentemente encontrada em ambientes urbanos, o cientista diz que os cidadãos podem ter um papel importante na deteção e comunicação da presenta dessa espécie.

“É possível detetar estas formigas devido à sua picada dolorosa e aos montes característicos formados pelos seus ninhos”, afirma, embora a confirmação só deva ser feita por um especialista.