Aquecimento marinho e degelo reduzem capacidade do Oceano Ártico para sequestrar carbono
O Ártico é uma das regiões do planeta onde se registam os mais rápidos aquecimentos a nível global. A consequente redução do gelo marinho expõe o Oceano Ártico a uma quantidade cada vez maior de radiação solar, aquecendo ainda mais as águas e provocando a proliferação de matéria orgânica.
Além disso, o degelo do permafrost (camadas de gelo que, anteriormente, nunca derretiam ao longo do ano) está a lançar no oceano grandes quantidades de nutrientes e carbono arrastados por rios e fruto da erosão da costa, antes protegida pelo gelo.
Poderia pensar-se que o aumento dos nutrientes faria aumentar a capacidade de sequestro de carbono do oceano, mas uma investigação publicada esta segunda-feira na revista ‘Nature Climate Change’ veio relevar que o que se passa é exatamente o contrário: quanto mais nutrientes forem adicionados, menor o sequestro de carbono.
Laurent Oziel, do Instituto Alfred Wegener (Alemanha) e primeiro autor do trabalho, explica que o aumento de nutrientes e os seus impactos nos ciclos biogeoquímicos do oceano não são devidamente tidos em conta nos modelos usados, por exemplo, pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, em inglês) para prever as consequências do aquecimento global.
A capacidade de sequestro de carbono nos oceanos é impulsionada por um mecanismo que transporta o carbono da superfície até às profundezas (também conhecido como “bomba de carbono”), onde fica armazenado e, assim, impedido de ser libertado na atmosfera e de promover o aquecimento.
A investigação revela que o aumento da radiação solar a que o Oceano Ártico está exposto e dos nutrientes empurrados pelo degelo do permafrost poderá reduzir a capacidade oceânica de sequestro de carbono em 40% até 2100.
Com o aumento da matéria orgânica à superfície, o carbono acaba por ficar “preso” nessa região, usado nos processos biológicos de organismos fotossintéticos, e não é depositado em águas mais profundas.
Apesar de apenas representar 1% do volume oceânico global, o Oceano Ártico contribui significativamente para o sequestro de carbono, pelo que a redução dessa capacidade poderá ter efeitos que se sentirão um pouco por todo o planeta.