“Armadilha ecológica”: Aves são atraídas pelas luzes das cidades e isso pode ser fatal



A crescente iluminação do céu noturno, fruto da expansão e crescimento das áreas urbanas, é um fator de preocupação relativamente à sobrevivência e estabilidade de espécies de aves migradoras.

Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos da América (EUA) associa a crescente poluição luminosa a colisões e mortes registadas em bandos de aves cujos ciclos de vida dependem de grandes viagens sazonais entre vários pontos do planeta.

Num artigo publicado na revista ‘Nature Communications’, afirmam que “a luz artificial é um dos principais indicadores de onde as aves irão pousar”. E Kyle Horton, da Universidade Estadual do Colorado e primeiro autor, afirma mesmo que as luzes artificiais das cidades estão a atrair aves para o que diz ser “uma armadilha ecológica”.

Isto, porque os centros urbanos apresentam uma série de fatores que podem resultar no ferimento, debilitação ou mesmo morte dos grupos de aves e dos indivíduos: edifícios que podem levar a colisões, menores áreas de habitats adequados pobres em alimento e com poucos abrigos, e predadores, como os gatos.

“Os parques urbanos podem ser locais de paragem decentes, mas as aves que aí repousarem terão de competir por recursos limitados”, avisam os investigadores em comunicado.

Recorrendo a dados de radar para mapear os movimentos migratórios das aves ao longo dos EUA, a equipa avança que “a poluição luminosa é o principal indicador de como os humanos influenciam a migração das aves”. Contudo, reconhecem que ainda não se sabe ao certo a razão dessa atração.

Por isso, adotando uma postura de ‘mais vale prevenir do que remediar’, os cientistas estão a trabalhar com organizações governamentais e não-governamentais para perceber qual a melhor abordagem a seguir para evitar afetar as aves migradoras. Acreditam que a solução passará por algo como aplicar medidas de conservação de espaços urbanos como ‘estações de serviço’ para as aves e por campanhas de redução da luz artificial.

Estima-se que todos os anos cerca de mil milhões de aves morram nos EUA devido a colisões com edifícios. Por isso, considera urgente agir o mais rapidamente possível para reduzir os impactos da poluição luminosa nas aves.

Colocar marcas nas janelas, como pequenos pontos ou linhas, poderá ajudar os animais a detetarem o obstáculo e a evitá-lo, e reduzir a intensidade das luzes pode também ser parte da solução.

“Luzes brilhantes brancas ou azuis são as piores para a vida selvagem, ao passo que tons mais quentes, como vermelho, laranja e amarelo, são menos atraentes”, sublinham os investigadores.

Desligar as luzes para salvar as aves

Em novembro, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) anunciou que foram salvas mais de 800 aves caídas por terra devido à iluminação artificial nos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias.

A ação decorreu no âmbito do projeto LIFE Natura@night, cujo objetivo era “assegurar que as aves juvenis têm sucesso na sua primeira viagem até ao mar”, e o trabalho contou com a participação de centenas de voluntários.

“Só nestes três arquipélagos, estima-se que 1100 aves marinhas morram todos os anos devido à poluição luminosa – um problema especialmente grave dado que estes são locais de reprodução destas espécies que pertencem ao grupo de aves mais ameaçado do mundo”, afirmou a SPEA em comunicado, em novembro.

Por exemplo, os juvenis das cagarras (Calonectris borealis) começam a abandonar os seus ninhos em meados de outubro, para iniciarem as suas vidas nos mares. Para evitarem os predadores, saem dos ninhos durante a noite “usando a lua e as estrelas para se orientarem”, explica a organização.

Uma das cagarras resgatadas no âmbito do projeto LIFE Nature@night.
Foto: Elisa Teixeira / SPEA

Contudo, com a expansão das áreas urbanas “este batismo de voo tornou-se cada vez mais perigoso: candeeiros de rua, faróis de carros e holofotes todos ofuscam a lua, confundindo ou encandeando as aves”. E isso pode fazer as aves “cair de exaustão, ou voar contra obstáculos como edifícios ou carros, arriscando-se a ficar feridas ou mesmo a morrer”.

Além disso, avisa a SPEA, “a poluição luminosa ameaça outras espécies incluindo insetos noturnos e morcegos, e tem impactos significativos na saúde humana”.





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