Ártico perde grande quantidade de gelo marinho devido a “tempestade monstruosa”



Em janeiro deste ano, uma grande tempestade abateu-se sobre o Ártico, provocando ventos fortes, a perda de gelo marinho e flutuações térmicas anómalas. Apesar de a tormenta ter sido prevista pelos modelos científicos, estes falharam em antecipar os efeitos sobre as coberturas geladas do pólo norte.

Investigadores da Universidade de Washington, da NASA e da Universidade de Auckland descobriram que “as previsões subestimaram a redução da espessura e da área do gelo marinho devido à tempestade”. Com recurso a imagens e satélite, a equipa acredita que a ondulação violenta terá sido uma das principais causas da perda de gelo.

Num artigo publicado na revista ‘Geophysical Research: Atmospheres’, os cientistas argumentam que a tempestade fez com que ocorresse a maior perda de gelo no Ártico alguma vez registada no espaço de uma semana. Ed Blanchard-Wrigglesworth, o principal autor, explica que “a perda de gelo durante seis dias foi a maior mudança que encontrámos nas observações históricas desde 1979, e a área de gelo perdida foi 30% superior” à que se tinha previsto.

De facto, os modelos tinham antecipado perdas de gelo, “mas apenas metade do que vimos no mundo real”, salienta o investigador.

O trabalho destaca a importância da precisão dos modelos de previsão para que possam ser ferramentas que reforcem a segurança das comunidades, pescadores e outros agentes que operem nas águas do Ártico. Além disso, Blanchard-Wrigglesworth aponta que a precisão dos modelos de previsão do gelo no Ártico influencia as previsões meteorológicas para outras partes do mundo.

Os especialistas descrevem o ciclone que varreu o Ártico em janeiro como “uma versão extrema de uma tempestade típica de inverno”. Contudo, dizem-nos que as alterações climáticas não terão estado na origem dessa tempestade em particular, pois não conseguiram encontrar evidências que indiquem que os ciclones no Ártico estejam a tornar-se mais intensos e notaram que a área de gelo marinho nessa região estava perto dos níveis normais históricos antes de a tempestade ter acontecido.

Ainda assim, sublinham que o aquecimento global está a aumentar a área de mar aberto, ou seja, que não está coberto por gelo, o que permite que se formem ondas maiores que terão mais força para erodir cada vez mais as plataformas geladas.

Durante o temporal, as ondas do Oceano Ártico atingiram os oito metros de altura e algumas vagas cobriram mesmo grandes extensões da plataforma gelada, tendo chegado a percorrer 100 quilómetros por cima do gelo.

Depois da tempestade, camadas de gelo marinho nas águas a Norte da Noruega e da Rússia chegaram mesmo a perder mais de meio metro de espessura.

“Foi uma tempestade monstruosa”, diz Melinda Webster, que também participou neste estudo.

Os investigadores querem agora analisar mais tempestades no Ártico para perceber as causas de perda de gelo que escaparam aos modelos de previsão, por exemplo, com a colocação de sensores no trajeto da próxima tormenta que venha a abalar essa região remota do planeta.





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