As cinco fases do desperdício alimentar
Nos últimos anos, milhões de pessoas nos países desenvolvidos começaram tomar acções para reduzir a quantidade de comida por si desperdiçada, uma tendência que se tem alargado a restaurantes, cafés e marcas ligadas à segurança alimentar e sustentabilidade.
Como a Tetra Pak. A multinacional de origem sueca publica regularmente dicas para reduzir o desperdício de alimentos, como estas, mas desta vez foi mais longe.
A multinacional dedicou o último número da sua revista ao tema, como pode ver aqui, e avança com um dado novo: um terço dos alimentos produzidos nunca chegarão a ser comidos – estragam-se ou são desperdiçados.
Na Europa, na América do Norte e na Austrália, cerca de 95-115 kg de alimentos são deitados fora por pessoa por ano; na África Subsaariana e no Sul e Sudeste asiático este número é de 6-11 kg por pessoa por ano. Aproximadamente o dobro desta quantidade é desperdiçada nos campos agrícolas, nas fábricas e no retalho, no seu conjunto.
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, por outro lado, refere um número global de 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos que são produzidos todos os anos mas nunca são consumidos.
“A perda de alimentos é um tremendo desperdício dos limitados recursos naturais do planeta. As perdas de alimentos têm diferentes origens e acontecem em todas as etapas da cadeia alimentar desde a fase de cultivo, à produção, tratamento, distribuição, retalho e consumo”, explica o Protege o que é Bom.
Veja as cinco fases do desperdício alimentar e o porquê de tal acontecer.
Desperdício na produção primária
“As primeiras perdas de alimentos acontecem na fase de produção, nos campos, com os agricultores, o padeiro ou pescador, podendo ser causadas por problemas meteorológicos infestações de insectos, bolores e similares ou por problemas no manuseamento, transporte ou armazenagem. As perdas de leite podem resultar de problemas sanitários com os animais e conduzir a quebra de vários pontos percentuais no rendimento.”
Desperdício na fase de tratamento/venda grossista
“O desperdício de produtos na indústria alimentar pode ocorrer durante a mudança de produto numa linha de tratamento ou devido a uma falha na produção ou porque a matéria-prima recebida estava danificada. As perdas na fase grossista podem resultar da armazenagem, manuseamento, transporte ou porque os alimentos expiraram o seu prazo de validade.
No caso do leite, as perdas e a degradação podem ocorrer durante o transporte do local de produção para a fábrica de transformação ou na fase de tratamento, por exemplo, na transformação em queijo ou iogurte. Um excesso de oferta de alimentos frescos como frutas, vegetais, carne, peixe e marisco significa que muito é desperdiçado. Uma elevada percentagem dos desperdícios de alimentos na fase grossista são produtos que foram devolvidos pelas lojas. Por exemplo, um fornecedor de uma marca específica de pão em Estocolmo, na Suécia, reporta devoluções de pão correspondentes a 30m3 todas as semanas.”
Desperdício nas lojas
“Finalmente, as perdas nas lojas ocorrem em resultado de estragos na distribuição, manuseamento incorrecto e erros nas entregas, embalagens deficientes, produtos com prazo de validade expirado. O seu objectivo é ter as prateleiras cheias com produtos com boa aparência o que significa que é aceite que haja uma certa quantidade de alimentos que se perdem. Tudo aquilo que aparente não ter a qualidade suficiente ou que se aproxime da data de termo do prazo de validade é eliminado, independentemente de estar em boas condições. A falta de conhecimento do consumidor quanto ao que significa o prazo de validade ou sobre a aparência que as frutas em perfeito estado de maturação devem ter contribui para que os lojistas rejeitem produtos que estão em excelentes condições. Na medida em que é impraticável devolver produtos frescos ao fornecedor e não é rentável vender a baixo preço produtos no fim do prazo de validade, a maior parte das lojas opta por colocar no lixo estes produtos o que leva a que grandes quantidades de alimentos sejam desnecessariamente rejeitadas.”
Desperdício nos serviços alimentares
“Nos restaurantes, nas cadeias de fast food e nas cozinhas comerciais deitam-se fora grandes quantidades de alimentos devido à forma como foram armazenados, preparados ou servidos e quase o mesmo volume é desperdiçado após a venda porque, muitas vezes, as doses individuais são demasiado grandes ou devido à falta de formação daqueles que manipulam os alimentos. O desperdício evitável de alimentos é particularmente grande nos buffets. Entre 24 e 35% de todos os almoços escolares nos EUA, no Reino Unido, na Europa e na Austrália terminam no caixote do lixo.”
Desperdício em casa
“Todos os lares produzem lixo, metade do qual é comida. Cerca de metade deste desperdício podia evitar-se – são alimentos que poderiam ser consumidos se tivessem sido manipulados de outro modo. Isto não inclui o que deitamos fora pelo triturador ou damos aos animais de estimação. Ao longo de toda a cadeia alimentar, a maior parcela de desperdício alimentar evitável é aquela que é produzida nas nossas casas. A sua dimensão começa a ser visível em resultado de uma série de relatórios e investigações que revelam que pelo menos uma quinta parte do dinheiro gasto em alimentos vai directa para o triturador.
A principal razão pela qual nós, consumidores, deitamos comida fora é porque preparamos quantidades excessivas: demasiado arroz, massa ou batatas e o pão, as frutas e os vegetais são armazenados incorrectamente ou durante demasiado tempo. Famílias com crianças deitam fora muitos alimentos preparados que são deixados nos pratos e os produtos lácteos vão directos para o cano. Para muitas pessoas, uma boa razão para deitar alimentos fora é o facto de terem passado o “prazo de validade”. Alguns consideram que se podem dar a esse luxo e outros acham que é embaraçoso guardar sobras.”