Associação ambientalista critica ICNF por plantação de pinheiros na Serra de Montejunto
A Associação para o Estudo e Defesa do Ambiente do Concelho de Alenquer (Alambi) critica o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) pelo “erro” de plantar pinheiros no perímetro florestal da Serra de Montejunto, que no dia 22 assinalou 24 anos desde que foi considerada Paisagem Protegida.
Em comunicado, a associação ambientalista alenquerense avisa que Montejunto “não tem ainda Plano de Ordenamento e Gestão, o que pode constituir uma dificuldade ao seu ordenamento florestal, nomeadamente às opções de reflorestação”. Contudo, salienta que “se não existe Plano de Ordenamento, existem outros documentos oficiais que devem ser seguidos”.
A serra entrou em Regime Florestal Parcial na década de 1910, e nessa altura “estava despida de arvoredo, depois de séculos de desarborização”, lembrando a Alambi que “relatos da época dizem que as árvores se contavam pelos dedos de uma mão”.
“Os Serviços Florestais, num trabalho diligente que demorou décadas, plantaram ali um imenso pinhal com uma área superior a mil hectares”, afirma a associação, sublinhando que esse esforço de reflorestação “nada teve a ver com a reconstituição dos ecossistemas destruídos por séculos de arroteias – questão que nem se colocava na época – nem tão pouco a utilização de espécies nativas constituía uma preocupação”, mas foi motivado pela falta de madeira no país. E essa replantação foi feita com recurso ao pinheiro, sobretudo o pinheiro-bravo, que “adaptou-se bem a serranias de solos empobrecidos pela erosão”.
Em 2003, um incêndio terá consumido 1700 hectares de floresta em Montejunto, entre os quais cerca de 950 hectares de pinhal.
“Segundo o inventário florestal que consta no Projeto de Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem protegida da Serra de Montejunto, datado de 2011, restavam naquela altura em Montejunto 297ha de resinosas, o que permite concluir que o incêndio de 2003 consumiu, de uma só vez, 76 por cento do pinhal que os Serviços Florestais demoraram décadas a plantar”, recorda a Alambi.
Por isso, argumenta que “ficou claro, nesse ano, que grandes extensões de resinosas fora do litoral, sem pastoreio, sem a roça de matos, sem a recolha de lenha morta, isto é, sem gestão ativa, são altamente vulneráveis ao fogo, constituem um perigo para as populações residentes, são um investimento económico sem retorno e constituem um ecossistema ideal para alimentar grandes fogos no verão”.
Em nota enviada às redações, a associação ambientalista de Alenquer aponta que “recentemente, o ICNF, herdeiro dos Serviços Florestais, realizou uma nova plantação de pinheiros na Serra de Montejunto, opção que não podemos deixar de questionar”, referindo que o Plano Sectorial da Rede Natura 2000 da Serra de Montejunto estabelece como orientações de gestão, ações “dirigidas prioritariamente para a recuperação de diferentes habitats, promoção do carvalhal, dos habitats rupícolas e dos biótopos de alimentação dos quirópteros”.
Como tal, declara a organização que “é a plantação de carvalhos que o Plano da Rede Natura manda realizar, não é a plantação de pinheiros”, frisando que “os 1500ha do Perímetro Florestal da Serra de Montejunto sob responsabilidade do ICNF, não devem ser geridos de forma casuística, ao sabor do que cada equipa técnica entende por bem fazer”.
“Assim, não podemos deixar de convidar o ICNF a corrigir o erro que cometeu e a substituir os pinheiros ali plantados por árvores das espécies referidas nos documentos que se aplicam a Montejunto”, entre eles também o Oeste PIAAC, um documento de adaptação às alterações climáticas para a região, diz a Alambi, que protesta ainda contra a “inexistência de medidas de reabilitação de ecossistemas”, a “proliferação dos eucaliptos, por vezes, julgamos, de modo clandestino e a consequente transformação de parte da Serra num imenso eucaliptal”.