Associação Amigos da Serra da Estrela defende medidas que evitem erosão dos solos
A Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela (ASE), com sede em Manteigas, distrito da Guarda, defendeu hoje a aplicação de medidas urgentes para evitar a erosão dos solos e a escorrência das águas das encostas ardidas.
O presidente da ASE, José Maria Saraiva, disse hoje à agência Lusa que, neste momento, a urgência na intervenção devia estar relacionada com o derrube de arbustos e de árvores para que possam constituir “um emaranhado de obstáculos à escorrência das águas e lixiviação das encostas”.
A ASE referiu que “a erosão e a urgência em proteger os solos, evitando a sua lixiviação, entrou no discurso e na prática das entidades que têm responsabilidades na gestão do território da serra da Estrela”.
“As entidades mobilizaram-se e, algumas equipas de sapadores dos Baldios, estão no terreno a semear centeio nas linhas de cabeceira, numa tentativa de evitar que as primeiras chuvas que se avizinham não provoquem maiores danos, arrastando as terras que muita falta fazem para suportar as plantas”, acrescentou.
No entanto, para a associação, “importa agora, e em simultâneo com a sementeira, que os arbustos e árvores queimadas, situados em zonas de acentuado declive e com riscos diversos, onde a sua retirada iria criar mais danos do que evitá-los, sejam derrubados e possam passar a constituir um emaranhado de obstáculos à escorrência das águas e lixiviação das encostas”.
O presidente da ASE referiu à Lusa que “o trabalho primeiro devia ser o derrubar os arbustos e as árvores e, de seguida, [efetuar] a sementeira”.
“Está feita a sementeira, muito bem, é um trabalho mais fácil, que é pegar nas sementes e espalhá-las de forma tradicional. Não vemos qualquer mal nisso, pelo contrário. Agora, estamos sujeitos também a que, se as chuvas vierem com muita violência, a própria sementeira seja arrastada pelas águas das chuvas. Espero que isso não aconteça, que a precipitação não seja tão grave como aquilo que se possa ajuizar”, afirmou, aludindo às previsões de chuva forte para os próximos dias.
Na opinião deste dirigente associativo, caso o trabalho de derrube de árvores e de arbustos já estivesse feito, os riscos de perder o centeio e os solos “eram diminutos”.
José Maria Saraiva adiantou que os Baldios de São Pedro, no concelho de Manteigas, e de Verdelhos, no município da Covilhã, já estão a fazer as sementeiras, e, agora, “importava que o outro [trabalho] avançasse, principalmente no topo das linhas de cabeceira”.
O responsável explicou que a operação de corte de árvores e de arbustos ardidos e a sua colocação no solo para evitar a erosão deve ser orientado pelas entidades competentes, mas, para além dos profissionais na área, disse entender que o mesmo pode ser executado por “qualquer pessoa que possa deitar uma árvore abaixo”.
A concluir, o presidente da ASE lembrou que nas encostas atingidas pelo fogo estão as árvores e os arbustos que é preciso derrubar e entrelaçar, “no fundo, criar uma teia, com essa madeira”, evitando que as águas das chuvas arrastem os solos.
A serra da Estrela foi afetada por um incêndio que deflagrou no dia 06 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã (distrito de Castelo Branco) e que foi dado como dominado no dia 13.
O fogo sofreu uma reativação no dia 15 e foi considerado novamente dominado no dia 17 do mesmo mês, à noite.
As chamas estenderam-se ao distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, e atingiram ainda o concelho de Belmonte, no distrito de Castelo Branco.
No dia 25, o Governo aprovou a declaração de situação de calamidade para o PNSE, afetado desde julho por fogos, conforme pedido pelos autarcas dos territórios atingidos.
A situação de calamidade foi já publicada em Diário da República e vai vigorar pelo período de um ano, para “efeitos de reposição da normalidade na respetiva área geográfica”.