Assunção Cristas: “O Nutrition Awards é uma oportunidade para dar mais credibilidade ao mercado”
Hoje de manhã, a newsletter do Nutrition Awards – iniciativa que promove a inovação no sector agro-alimentar, publicou uma entrevista exclusiva à ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas.
Como media partner do Nutrition Awards, o Green Savers ganhou a exclusividade da publicação da entrevista, onde a Ministra Cristas fala sobre o défice agro-alimentar português, a exportação de produtos alimentares made in Portugal e a importância do Nutrition Awards.
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Um dos objectivos do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território passa por eliminar, até 2020, o défice agro-alimentar. Que medidas estão a ser implementadas tendo em vista esta meta?
Os objectivos do Governo passam pela valorização dos sectores produtores de bens transaccionáveis como motor do relançamento do crescimento económico. Desta forma existe um alinhamento total no apoio ao desenvolvimento do complexo agro-florestal (agricultura, agro-indústria e floresta) com a definição de uma visão da estratégia nacional para o sector, nomeadamente na formulação do Programa de Desenvolvimento Rural que assenta na autossuficiência, em valor, do sector agro-alimentar em 2020, promovendo a sustentabilidade de todo o território nacional.
As alterações que se têm vindo a efectuar no programa de desenvolvimento rural actual (PRODER) e os trabalhos do próximo período de programação 2014-2020, incluindo as sinergias que se possam potenciar com os restantes fundos comunitários, são determinantes para uma mobilização dos recursos para o investimento privado reprodutivo, com criação de valor, a partir de actividades agrícolas e florestais, tendo em vista a correcção do desequilíbrio da balança comercial nacional.
Assim, tem-se actuado a três níveis: o de desenvolvimento da produção agrícola e florestal sustentável em todo o território nacional; o do aumento da concentração da produção e da oferta; e o da criação e distribuição de valor equitativa ao longo da cadeia de valor do sector agro-alimentar.
E como pode ser feito o apoio ao investimento?
O apoio ao investimento tem de ser enquadrado numa perspectiva de cadeia de valor, quer a montante, ao nível potencial produtivo – através da melhoria das condições do acesso à terra e ao rejuvenescimento do sector, de que são exemplo as iniciativas desenvolvidas sobre a dinamização do mercado da terra (bolsa de terras); quer a jusante, onde tem constituído uma prioridade do Ministério a implementação de medidas que promovam o equilíbrio na cadeia alimentar, potenciem a valorização dos bens alimentares e das exportações.
A criação da PARCA veio neste sentido promover a melhoria do diálogo e a transparência e obtenção de maior equidade na repartição do valor ao longo da cadeia. É ainda de assinalar o conjunto de iniciativas ao nível da promoção da internacionalização do sector agro-alimentar.
Como resultado desta actuação integrada, o défice comercial do complexo agro-florestal tem vindo a reduzir-se progressivamente, sendo visível a evolução em factores determinantes como o tecido empresarial (elevado crescimento da taxa de entrada de jovens na actividade agrícola), melhoria da capacidade de oferta de produtos e aumento das exportações.
Na verdade, a orientação do complexo agro-alimentar para o mercado externo tem aumentado, acompanhando a tendência da economia nacional, mas de forma mais acentuada. O dinamismo das exportações do complexo agro-alimentar tem-se traduzido em taxas de crescimento superiores às do resto da economia: as exportações de bens agro-alimentares tiveram um crescimento médio anual de 8,3% na última década, superior à taxa de crescimento exportação de todos os produtos em Portugal.
Até ao momento, Portugal é excedentário em azeite, vinho e cortiça. Que outros produtos ou subprodutos poderão contribuir para o equilíbrio da balança comercial agro-alimentar?
No âmbito da produção agro-alimentar, todos os produtos são importantes para a exportação, para contrabalançar as importações que necessariamente se têm de efectuar.
Não podemos falar apenas dos que são excedentários, mas sim dos que por apetência no mercado internacional apresentam uma capacidade de adicionar valor, como por exemplo os produtos hortofrutícolas, que têm revelado uma dinâmica ímpar, que assenta, de forma crescente, em produtos de excelência, com assinalável valor acrescentado, em muitos casos, com um elevado grau de inovação incorporado.
Ao contrário de outro tipo de bens, consome-se actualmente um leque muito diversificado de bens alimentares, pelo que a redução do défice comercial externo é dificultado pela forte dependência da importação de alguns produtos com elevado peso no consumo. Embora se tenha verificado um crescimento da produção de bens alimentares, tem sido insuficiente para compensar o aumento dos níveis de consumo, o que leva a um aumento das importações.
Deve ter-se também em conta que, em certa medida, a exportação dos produtos alimentares tem algumas condicionantes. Em particular, a especificidade de parte dos produtos agrícolas, dada a sua perecibilidade, requer algum grau de transformação para poderem ser exportados.
Note-se ainda que metade dos produtos agrícolas nacionais é incorporada nas indústrias alimentares e bebidas como consumo intermédio, pelo que deverá ser tida em conta a orientação exportadora directa e indirecta.
Está o sistema de ensino preparado para responder às necessidades do sector agro-alimentar e simultaneamente adaptar-se à constante necessidade de inovação?
A prova de que o sistema de ensino se está a adaptar às constantes necessidades de inovação é a adesão que projectos como o Nutrition Awards e outros, que premeiam a investigação e a inovação têm tido no nosso país.
A investigação e inovação neste sector é um factor chave para potenciar o esforço produtivo e o sucesso na exportação como forma de manter a estratégia de sucesso presente. A criação de uma política de investigação no agroalimentar só pode ter sucesso se for partilhada pelos diferentes parceiros: universidades, politécnicos, investigadores, empresas, associações de produtores e estiver devidamente alinhada em objetivos claros e políticas públicas que facilitem e valorizem a produção nacional.
Qual o país ou países que neste momento se afiguram com potencial para as exportações agro-alimentares nacionais?
As exportações no sector agro-alimentar assumem contornos muito diferenciados consoante o subsector e o grau de diferenciação do produto. Existem os mercados de proximidade, mercado comunitário e mercados “da saudade”, e os mercados mais distantes, quando a comercialização e a promoção do produto assim o definem ou permitem.
Em termos potenciais, os produtos “frescos” têm, na grande parte das gamas, maior afinidade ou correspondência para os primeiros mercados, enquanto os produtos “com maior grau de transformação” têm uma maior área geográfica de abrangência, chegando mais facilmente aos segundos mercados.
Por outro lado, temos mercados que se distinguem pela afinidade cultural e linguística, pelo crescimento das suas economias e pela valorização das marcas portugueses, onde as exportações portuguesas são importantes e devidamente consolidadas: Europa – Espanha, Alemanha, Reino Unido, Países Nórdicos; PALOP – Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe; América Latina: Brasil, Venezuela, Chile.
E temos os mercados emergentes onde poderemos encontrar excelentes oportunidades para os produtos alimentares portugueses se formos capazes de ultrapassar alguns constrangimentos de natureza técnica e cultural: América do Norte: Estado Unidos da América e Canadá; América Latina: México, Argentina, Peru, Colômbia e Costa Rica; África do Sul; Países Mediterrânicos extra UE: Marrocos, Argélia e Tunísia; Ásia: Rússia, Índia, Japão, China, Coreia do Sul.
Assim, para as exportações agro-alimentares, temos mercados consolidados, em especial os de Língua Portuguesa e Europa Comunitária (com especial relevância Espanha), e mercados que devemos aproveitar selectivamente as oportunidades de negócio, nomeadamente, em economias emergentes, com categorias de produtos de valor acrescentado e com posicionamentos que permitam a valorização dos atributos e características únicas dos produtos portugueses. Nestes últimos, existem expectativas fortes nos países da América latina, médio oriente e mediterrânicos não europeus.
Os factores que levam ao sucesso dos processos de exportação dos produtos agro-alimentares passam, em primeiro lugar, pela capacidade competitiva das nossas empresas e, em segundo lugar, pela Diplomacia Económica portuguesa na resolução dos eventuais constrangimentos de ordem técnica. Para tal, mostra-se crucial a definição de prioridades efetivas pelos agentes económicos do sector e, também, da capacidade de resposta das autoridades nacionais às exigências de controlo para a exportação de produtos para esses mercados de destino.
Do seu ponto de vista, qual o contributo do Nutrition Awards para o sector agro-alimentar português?
O Nutrition Awards constitui uma oportunidade para proporcionar maior visibilidade e credibilidade no mercado a muitas empresas do sector agro-alimentar nacional, servindo também como demonstrativo de casos de sucesso nesta área.
Tendo presente os objectivos associados a esta iniciativa, que passam pela inovação no sector agro-alimentar, produção nacional e promoção de estilos de vida saudável, é patente o potencial contributo para a promoção da valorização da oferta agro-alimentar nacional e da promoção do consumo de produtos nacionais.
Para além do reconhecimento da alimentação e nutrição como um pilar importante para a saúde e bem-estar das populações, constitui também uma oportunidade, em coerência com o lema adoptado – “inovar para crescer” – de promover sinergias entre a inovação e o crescimento. A este nível, o reconhecimento do mérito das iniciativas e empresas que desenvolvam a inovação, Investigação e Desenvolvimento e empreendedorismo, deverá constituir uma clara indicação do seu contributo para o crescimento e reforço da competitividade nacional.
Assim, os Nutrition Awards, ao incentivarem a criatividade de todos os participantes nas diferentes categorias serão, com toda a certeza, uma firme esperança e um sinal inequívoco que em Portugal se continua a crescer na inovação, no domínio da Alimentação, Saúde e Bem-estar. A certeza da mobilização, da iniciativa e da comunicação dos projectos e dos investigadores tornará, ainda, este Prémio como uma referência nacional muito útil não só para o sector agro-alimentar mas também para os consumidores.