Ativistas ambientais criticam facto de Presidente da petrolífera dos Emirados ir presidir à COP28
O presidente executivo (CEO) da petrolífera estatal dos Emirados Árabes Unidos foi ontem nomeado para presidir à conferência das Nações Unidas sobre o clima que este ano vai decorrer no Dubai, suscitando críticas de ativistas ambientais.
Ministro da Indústria dos Emirados Árabes Unidos e também presidente da gigante petrolífera ADNOC (Abu Dhabi National Oil Company), além de representante especial para as alterações climáticas, Sultan Ahmed al-Jaber será o primeiro CEO a presidir a uma conferência da ONU sobre alterações climáticas (COP), segundo um comunicado da agência de notícias oficial WAM.
“Vamos trazer uma abordagem pragmática, realista e orientada para a solução”, prometeu Sultan Ahmed al-Jaber no comunicado.
“A ação climática é uma enorme oportunidade económica para investir num crescimento sustentável. O financiamento é fundamental”, acrescentou.
O ministro lidera a petrolífera nacional desde 2016, mas também a Masdar, a empresa de energias renováveis dos Emirados.
A sua dupla função valeu-lhe muitas críticas por parte de ativistas ambientais.
“A nomeação de Sultan Ahmed al-Jaber como presidente da COP28, enquanto é CEO da companhia petrolífera nacional de Abu Dhabi, é um conflito de interesses escandaloso”, disse Harjeet Singh, da Climate Action Network International, denunciando a influência dos lobistas de combustíveis fósseis.
Para Teresa Anderson, da ActionAid, “isto vai além de colocar a raposa no galinheiro”.
Já o antigo secretário executivo da convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Yvo de Bóer, apoiou a candidatura referindo que os Emirados Árabes Unidos são “um grande investidor em energias renováveis no país e no estrangeiro”, dando o seu apoio a Sultan Ahmed al-Jaber.
Este país do Golfo, que está entre os principais exportadores mundiais de petróleo, defende uma redução gradual da exploração e dependência dos hidrocarbonetos.
No entanto, estima que serão necessários mais de 600 mil milhões de dólares por ano na indústria do petróleo e do gás até 2030 para satisfazer a procura.
Os Emirados Árabes Unidos enviaram o maior número de lobistas da indústria petrolífera e associadas à COP27, que decorreu em novembro no Egito.
Esta edição levou à adoção de uma resolução sobre a compensação pelos danos causados pelas alterações climáticas aos países mais pobres mas não fez avanços na redução das emissões de gases com efeito de estufa e a questão da menor utilização dos combustíveis fósseis mal foi mencionada nos textos.
O aquecimento global é um tema particularmente importante para o Dubai, país desertico de 10 milhões de habitantes, 90% dos quais são expatriados.
De acordo com um estudo publicado em 2021, algumas regiões do Golfo, onde as temperaturas por vezes se aproximam dos 50 graus no verão, podem tornar-se inabitáveis até ao final do século.
“Limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius exigirá reduções significativas de emissões, uma abordagem pragmática, prática e realista para a transição energética e um maior apoio às economias emergentes”, refere o comunicado divulgado hoje, referindo-se à meta definida nas cimeiras anteriores.
A COP28 realiza-se no Dubai em novembro e dezembro.