Atlântico pode ‘em breve’ entrar na sua fase de declínio, dizem cientistas
Os oceanos parecem eternos quando comparados com a duração média da vida humana. Mas na verdade, em termos geológicos, não duram assim tanto tempo: nascem, crescem, e um dia morrem – fecham. O Oceano Atlântico, por exemplo, nasceu quando a Pangeia se dividiu, há cerca de 180 milhões de anos, e um dia irá fechar-se. E o Mediterrâneo é o que resta de um grande oceano – o Tétis – que existiu entre África e a Eurásia.
Para um oceano como o Atlântico parar de crescer e começar a fechar, têm de se formar novas zonas de subdução no seu interior, em que duas placas tectónicas convergem e uma mergulha sob a outra. Contudo, não é fácil formar-se novas zonas de subdução, pois para isso é preciso que as placas tectónicas se fraturem e dobrem, e elas são muito fortes e resistentes.
Uma solução possível para este ‘paradoxo’ é considerar que as zonas de subdução podem migrar de um oceano em final de vida, como o Mediterrâneo, para oceanos no auge da sua vida geológica, como o Atlântico.
Um estudo publicado na revista ‘Geology’, assinado pelos portugueses João Duarte e Filipe Rosas, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), e por outros quatro investigadores da Johannes Gutenberg University Mainz, usou modelos computacionais para prever que uma zona de subdução atualmente na região do Estreito de Gibraltar irá propagar-se para o interior do Atlântico.
De acordo com os cientistas, isso irá contribuir para a formação de um sistema de subdução atlântico, ou um ‘anel de fogo’ atlântico, e poderá, à escala geológica, acontecer ‘em breve’, ou seja, daqui a cerca de 20 milhões de anos.
“Este processo em que uma zona de subdução invade um outro oceano é um processo inerentemente tridimensional, que requer ferramentas avançadas de modelação e supercomputadores que não estavam disponíveis há alguns anos. Podemos agora simular com grande detalhe a formação do Arco de Gibraltar e também como este poderá evoluir num futuro profundo”, explica João Duarte, primeiro autor do estudo, citado em notícia publicada no site da FCUL.
Este estudo lança uma nova luz sobre a zona de subdução de Gibraltar: na comunidade científica poucos investigadores consideravam que esta ainda se encontrava ativa, pois a sua atividade abrandou significativamente nos últimos milhões de anos. De acordo com estes resultados, esta fase mais lenta durará cerca de 20 milhões de anos e, depois disso, irá acelerar e invadir o oceano Atlântico. Este poderá ser o início do fecho do Oceano Atlântico.
“Existem outras duas zonas de subdução do outro lado do Atlântico – o Arco das Pequenas Antilhas, nas Caraíbas, e o Arco da Escócia, perto da Antártida. No entanto, estas zonas de subdução invadiram o Atlântico há vários milhões de anos. Estudar Gibraltar é uma oportunidade inestimável porque permite observar o processo nas suas fases iniciais, quando ainda está a acontecer”, assinala João Duarte.
Em termos gerais, este estudo mostra que a invasão de zonas de subdução é provavelmente um processo de início de subducção comum em oceanos semelhantes ao Atlântico e, portanto, desempenha um papel fundamental na evolução geológica do planeta.
A descoberta de que a subdução de Gibraltar ainda está ativa tem também implicações importantes para a atividade sísmica na região. As zonas de subdução são conhecidas por produzirem os sismos mais fortes do planeta, sendo exemplo o grande sismo de Lisboa de 1755.