Austrália: descoberta de urânio ameaça arte rupestre (com FOTOS)
Um dos maiores exploradores de urânio do mundo encontrou um significativo depósito do elemento numa remota cordilheira tropical australiana. O local encontra-se perto de galerias de arenito que albergam a arte rupestre mais antiga – e espectacular – do planeta.
Depois de anos de perfurações, a empresa mineira Cameco fez uma descoberta em Wellington Range, local onde milhares de obras de arte ilustram os penhascos e as cavernas. Existe, inclusive, uma pintura da criatura canina extinta, o tilacino – ou lobo-da-tasmânia -, com pelo menos 15 mil anos.
O receio agora é que a mineira siga em frente com os seus planos de exploração, danificando as obras ancestrais. O arqueólogo Paulo Tacon defende que até o pó e as visitas dos trabalhadores da exploração podem danificar obras numa série de locais.
O urânio atravessa a área de Wellington Range e a Cameco tem feito a sua exploração perto de Djulirri, embora o grande depósito encontrado recentemente esteja mais próximo da costa norte da Austrália.
Djulirri é um magnífico complexo que contém mais de três mil imagens de arte rupestre, incluindo a mais antiga que se conhece – uma representação desvanecida ocre e amarela de um barco do sudeste asiático com pelo menos 350 anos de idade.
A Austrália tem as maiores reservas de urânio conhecidas do mundo. Mas a oposição que antes existia para expandir a sua exploração tem sido recentemente suavizada, com o boom de recursos que alimenta o apetite voraz da China por potências energéticas.
Quando a primeira-ministra australiana, Julia Gillard, trabalhou num acordo de urânio com a Índia no ano passado, a Cameco percebeu que o país poderia beneficiar de um crescimento nuclear na Índia e na China.
Estima-se que existam cerca de 100 mil sítios com arte rupestre na Austrália, com mais de um milhão de imagens. Mas, segundo Tacon, não há sequer uma lista nacional que permita proteger o património de forma adequada. “Há locais com arte rupestre em toda a Wellington Range, mas a maioria ainda não foi devidamente pesquisada”, disse Tacon ao The Guardian.
Leia também este artigo do The Global Mail (em inglês), para perceber um pouco melhor o que está em jogo.