Autarca de Aljezur pede solidariedade para aceder a água de Alqueva
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O presidente da Câmara de Aljezur apelou hoje à solidariedade entre regiões portuguesas para a zona do Mira e do barlavento algarvio terem acesso a água, através de uma ligação entre as barragens de Alqueva e Santa Clara.
José Gonçalves fez este apelo numa audição na Comissão de Ambiente e Energia da Assembleia da República, onde esteve acompanhado do presidente da Câmara de Ourique, Marcelo Guerreiro, e do presidente da associação de Portugal Fresh, Gonçalo Santos Andrade, para apresentação de um manifesto em defesa da ligação entre o Alqueva, Santa Clara e, depois, Odelouca, já no barlavento algarvio.
“Este Manifesto Água ao Serviço do Futuro vai ao encontro daquilo que efetivamente será a estratégia nacional ‘Água que Une’. A ‘Água que Une’ tem logo uma carga muito forte que é a da solidariedade. A solidariedade entre regiões é fundamental. Se nós queremos também solidariedade de parte de Espanha, nomeadamente nos recursos hídricos, é impensável que efetivamente não se tenha uma política de solidariedade entre regiões”, afirmou o autarca de Aljezur.
O Manifesto juntou “nove câmaras municipais, empresários das várias áreas” e procura encontrar soluções para aumentar a oferta de água numa zona onde a agricultura e o turismo têm um forte peso, como é o litoral alentejano e o barlavento algarvio, frisou.
“Sabemos que o Barlavento é onde chove menos hoje em dia, as barragens no Barlavento estão, de facto, muito em baixo e aqui seria uma oportunidade fantástica de podermos, também, reforçar todo o Algarve”, considerou o presidente da Câmara de Aljezur.
O presidente da Câmara de Ourique, Marcelo Guerreiro, também defendeu que o projeto em causa representa, para o território do concelho e para a região do Campo Branco, a “criação de novas oportunidades para o mundo rural e para a produção agropecuária”.
“Aquilo que foi estudado e que está aqui previsto parte, desde logo, do princípio de base de reforço de Alqueva através da interligação e permite a criação de novas áreas de rega na zona de Ourique”, afirmou Marcelo Guerreiro, frisando que esta solução permitiria também alavancar “projetos de desenvolvimento, nomeadamente do sequeiro assistido”.
O autarca assinalou que o território de Ourique “tem essencialmente produção agropecuária, que contribui também positivamente para a balança comercial do país” com a exportação de animais, “e é uma zona que tem muitos problemas de seca”, à semelhança do Algarve, sobretudo no barlavento (oeste).
“(…) As produções agropecuárias e explorações de sequeiro necessitam de encontrar novas soluções que possam dar uma nova vida, e que com este conjunto de investimentos poderiam ter também aqui uma outra oportunidade”, ao concelho, argumentou, frisando que o aumento da disponibilidade hídrica permitira também garantir a viabilidade da exploração mineira em Neves-Corvo, que gera cerca de 2.000 postos de trabalho.
Gonçalo Andrade, presidente da Portugal Fresh, que representa o setor das frutas, legumes e flores dessa área territorial, pediu “ambição” ao país para garantir que os produtores do perímetro do Mira, atualmente impedidos de crescer devido à questão da água, podem continuar a evoluir sem “desaproveitar potencial” que existe na zona.
O presidente da Portugal Fresh frisou que, em 2010, estes produtores exportavam 780 milhões de euros e o valor “triplicou” nos últimos 14 anos, atingindo “2,5 mil milhões de euros em 2024”, enquanto a ligação Alqueva-Santa Clara-Odelouca poderia ser construída “com um investimento entre os 150 e 200 milhões de euros”, valor que considerou como “razoável” atendendo ao valor que é gerado pelas atividades agrícolas nesse território.