Aves destras ou canhotas? Cientistas sugerem que alcatrazes têm um ‘lado dominante’



Entre os humanos, e outros primatas, é habitual haver preferência pelo uso de uma mão em detrimento da outra, dando aso ao surgimento de destros, que têm a mão direita como dominante, e os canhotos, ou esquerdinos, que usam preferencialmente a esquerda, ou ainda de ambidestros, que usam tanto uma como a outra, embora sejam menos frequentes.

Esta preferência por um lado do comporto é conhecida como comportamento lateralizado, ou lateralidade, e ocorre noutras espécies de vertebrados.

No entanto, pensar numa ave como destra ou canhota parece ser um bocado rebuscado, mas uma investigação liderada pela British Antarctic Survey revela agora que os alcatrazes (Morus bassanus) parecem preferir um lado ao outro.

Alcatraz em pleno mergulho.
Foto: Mike Pennington / Wikimedia Commons (licença CC BY-SA 2.0)

Esta ave migradora, que ocorre também ao longo da costa portuguesa, é conhecida pelos seus mergulhos a pique, de altitudes de dezenas de metros, em direção ao mar para capturarem as suas presas, recolhendo as suas asas e convertendo-se em autênticas ‘balas’ que quebram a superfície da água para chegarem aos peixes.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Biology Letters’, os investigadores explicam que, aquando do mergulho, os alcatrazes rodam o seu corpo para um lado, algo que acreditam permitir avistar melhor a presa e ajustar a trajetória o melhor possível para assegurar a captura.

Através da observação de mais de dois mil mergulhos de 51 alcatrazes, verificaram que cerca de metade rodavam o corpo ligeiramente para a direita e os outros para a esquerda, e outros três foram classificados como ambidestros. Essa técnica de caça, segundo os autores, era “consistentemente repetida” pelas aves, independentemente das condições meteorológicas, o que denota uma preferência por um lado ao invés do outro.

Para Ashley Bennison, primeira autora do artigo, os mergulhos dos alcatrazes são “um espetáculo fascinante”, pois as aves chegam a velocidades de 80 quilómetros por hora e, quanto atingem a água, enfrentam uma força gravitacional superior à que é experienciada pelos astronautas.

“Antes de realizarmos este estudo, percebemos que eles tendem a rodar quer para a sua esquerda, quer para a sua direita, para entrarem na água exatamente como querem”, afirma, “um comportamento que vimos que é consistente e repetível para cada ave”.

Os investigadores dizem que o comportamento lateralizado é mais evidente em espécies que executem tarefas complexas, como a caça de presas.

“Pensamos que isto evolui especialmente para tarefas complexas. Isso significa que os animais apenas têm de aprender uma vez, e, por isso, poupam energia ao desenvolverem somente as vias neuronais num lado do cérebro para um comportamento particular”, aponta Bennison.

“Neste caso, permite aos alcatrazes manipularem os seus corpos para um mergulho, mas possivelmente também permite manter a presa em vista e até outras aves”, salienta.





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