Aves na Europa estão a adaptar-se às alterações climáticas. Mas não suficientemente rápido
Os efeitos das alterações climáticas, como secas e incêndios mais intensos e frequentes e a deslocação de populações de animais e plantas para outros locais, estão a ser sentidos um pouco por toda a Europa. E as consequências, drásticas em muitos casos, não afetam apenas os humanos.
Num estudo publicado esta quinta-feira na revista ‘Nature Communications’, uma equipa internacional de vários investigadores revela que nos últimos 30 anos as aves europeias têm mudado a sua distribuição geográfica, em média, 2,4 quilómetros por ano, devido às alterações climáticas e também às ambientais, fruto das intervenções humanas, como a expansão da agricultura.
Contudo, dizem que, contrariamente ao que se esperava, as ‘colonizações’ de novas áreas estão a acontecer 50% mais lentamente do que se previa.
Stephen Willis, da Universidade de Durham e um dos principais autores do artigo, explica que os resultados da investigação apontam para duas “respostas intrigantes” das aves às recentes alterações climáticas que têm afetado a Europa.
O investigador explica que o ‘atraso’ na dispersão das aves para zonas com condições climáticas mais favoráveis se pode dever, por exemplo, à indisponibilidade de alimento. Isto é, apesar de noutro local as condições ambientais poderem ser melhores do que na área que ocupam atualmente, as aves tendem a não se deslocar se não houver disponibilidade de presas, cuja resposta às condições envolventes poderá ser diferente.
Isso faz com que, em locais onde se estima que possam ocorrer extinções de espécies de aves, essas podem, ainda assim, persistir, “por vezes por longos períodos de tempo”, uma vez que os seus habitats de eleição podem demorar a sofrer transformações profundas e possíveis novos locais ainda não reúnem todas as condições adequadas.
Escrevem os cientistas que “os resultados sugerem que as mudanças observadas recentemente na distribuição das aves reprodutoras europeias não têm sido predominantemente motivadas pelas alterações do clima”, mas sim pela disponibilidade de novos locais com condições favoráveis e por fatores relacionados com a própria capacidade de dispersão das aves, como se são ou não capazes de percorrer longas distâncias para se estabelecerem em novas áreas.
Por isso, ao tenderem a ficar nos ‘habitats de origem’, algumas espécies de aves na Europa, como a águia-rabalva (Haliaeetus albicilla), o abelharuco (Merops apiaster) e o tetraz-lira (Lyrurus tetrix), tornam-se mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas e, por isso, ao risco de extinção.
Como tal, os investigadores defendem a importância da criação de redes de populações locais destas e outras espécies de aves na Europa para mitigar a ameaça da extinção e torná-las mais resilientes aos efeitos das alterações climáticas.