Baleia-cinzenta bate recorde de viagem de um mamífero



Em 69 dias, uma baleia-cinzenta fêmea, a viver no noroeste do Pacífico viajou 10.880 quilómetros. Esta distância bate todos os recordes de migração alguma vez já feitos por um mamífero. A descoberta foi feita ao abrigo de um estudo de cientistas norte-americanos e russos que recorreu a transmissores monitorizados via satélite para seguir três baleias-cinzentas do noroeste do Pacífico. As conclusões foram publicadas na revista científica Biology Letters.

Uma destas três baleias é Varvara, a que bateu o recorde. Varvara é uma baleia com nove anos que iniciou, tal como as outras, a sua viagem ao largo da ilha russa de Sacalina, noroeste do Pacífico, em 2011, terminando-a na zona de reprodução das baleias ao largo da Baixa Califórnia, no México. Aqui, e ao contrário das outras, visitou os três lugares de reprodução da população de baleias-cinzentas do nordeste do Pacífico.

Posteriormente, Varvara voltou à região de alimentação, junto da ilha de Sacalina, utilizando uma rota que passou um pouco mais a sul do México. No total, a sua jornada demorou 172 dias, que corresponderam a 22.511 quilómetros, um recorde para uma viagem de ida e volta de um mamífero. O anterior recorde era detido por uma baleia-de-bossa: percorreu 9.800 quilómetros entre as costas do Brasil e de Madagáscar.

Além de descrever o novo recorde, o estudo obriga os cientistas a reflectiram sobre a identidade das baleias-cinzentas (Eschrichtius robustus). Actualmente, as baleias-cinzentas dividem-se em duas populações: a do noroeste do Pacífico e a do nordeste do Pacífico. A população de baleias do leste foi afectada pela caça comercial no passado, mas conseguiu recuperar e estima-se uma população actual de 18.000 indivíduos. Já a população do oeste continua ameaçada de extinção, estimando-se que existam apenas 150 baleias.

“O facto de as baleias-cinzentas do noroeste, em risco de extinção, viajarem numa extensão tão grande e interagirem com baleias da população do leste foi uma surpresa e levantou muitas questões”, afirma Bruce Mate, director do Instituto de Mamíferos Marinhos da Universidade Estatal do Oregon e coordenador do estudo, cita o TreeHugger. “Estudos anteriores indicaram que há uma diferença genética entre as populações”, acrescenta.

O recorde batido por Varvara “sugere fortemente que as baleias do noroeste do Pacífico são, na verdade, baleias do nordeste que se estão a alimentar em locais que eram atribuídos” às zonas onde viviam as populações do noroeste. “A capacidade das baleias navegarem em águas abertas em tão longas distâncias é impressionante e sugere que algumas das baleias-cinzentas do noroeste possam ser na verdade baleias do nordeste”, defende Mate. “Mas tal não significa que não continuem a existir alguns exemplares autênticos de baleias-cinzentas do noroeste. Mas se existirem, o seu número será ainda mais inferior ao que se pensava”, sublinha o investigador.

Assim, os autores do estudo defendem que seja elaborada uma avaliação mais profunda sobre a verdadeira identidade das baleias-cinzentas, em especial das que vivem ao largo da ilha de Sacalina.

Foto: Kenny Ross14 / Creative Commons





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