‘Banhos de lua’: Cientistas confirmam comportamento enigmático de tartarugas de água doce
As tartarugas, tal como os restantes répteis, por não serem capazes de regular a sua temperatura corporal – são conhecidos como animais ectotérmicos ou de ‘sangue frio’ – precisam de passar longos períodos de tempo paradas ao sol, para se poderem aquecer. Mas uma nova investigação vem confirmar que também durante a noite algumas espécies de tartarugas de água doce gostam de se refastelar sob a lua.
Na revista ‘Global Ecology and Conservation’, duas dezenas de cientistas divulgam aquele que dizem ser o primeiro estudo do género a documentar um comportamento singular de espécies de tartarugas de água doce das regiões tropicais e subtropicais: ‘banhos de lua’.
Os investigadores observaram frequentemente tartarugas em troncos junto à água, durante a noite, tal como o fazem durante o dia, algumas vezes muito próximas de outros animais. Este comportamento só muito recentemente foi descoberto, mas este estudo sugere que é mais comum do que se pensava e que abrange várias espécies de tartarugas.
Para este trabalho, foram colocados aparelhos de foto-armadilhagem em 25 locais na Austrália, Belize, Alemanha, Índia, Seicheles, Senegal, Trinidad e Tabago, Estados Unidos da América e África do Sul, captando uma fotografia a cada dois minutos, abrangendo 29 espécies distintas de tartarugas de água doce.
Donald McKnight, da Universidade de La Trobe, na Austrália, e o primeiro autor do artigo, recorda a primeira vez que se deparou com este comportamento, no Rio Ross, na cidade de Townsville, em Queensland.
“À noite, subiam para os troncos e ficavam ali paradas, exibindo praticamente o mesmo comportamento que exibiam durante do dia”, e argumenta que a equipa acredita que isso estará relacionado com a temperatura da água.
“A água está tão quente durante a noite que, de facto, é demais para aquilo que as tartarugas gostam”, explica, pelo que esses répteis “arrefecem-se saindo da água”. Apesar de, na perspetiva destes investigadores, ser um comportamento relativamente comum na família das tartarugas, até agora só foi observado em regiões tropicais e subtropicais, em que mesmo à noite as temperaturas são elevadas.
Contudo, a função precisa dos ‘banhos de lua’ continua a ser desconhecida, mas, dizem os autores, “pode representar um aspeto importante da ecologia de algumas espécies”.
“Este estudo é simplesmente o primeiro importante passo na compreensão deste comportamento, e agora que foi amplamente documentado, pode ser feito trabalho de investigação mais focado para melhor perceber os fatores que o influenciam”, pode ler-se no artigo.
Um dos primeiros estudos a revelar este comportamento, publicado em 2020 na revista ‘Reptiles & Amphibians’, e que se focou em tartarugas dos lagos de templos em Assam, na Índia, avança outra possibilidade: as tartarugas mais pequenas sobem aos troncos durante a noite para escapar aos predadores, como as grandes tartarugas de carapaça mole, um grupo que inclui espécies como a Nilssonia gangetica, a Nilssonia hurum e a Nilssonia nigricans.
Mas os autores desse trabalho não afastam a possibilidade de os ‘banhos de lua’ serem um mecanismo de termorregulação ou de procura de alimento.